De acordo com um documento da própria Polícia Federal, a oitiva de Malafaia foi solicitada pelo Ministério Público Federal com base no entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, que concluiu que houve “viés eleitoral” e uso indevido de bens e serviços públicos durante o evento. O MPF argumenta que o envolvimento do pastor pode ajudar a esclarecer como a organização do ato foi conduzida, principalmente no que diz respeito à estrutura utilizada e aos responsáveis pela sua execução. A menção ao trio elétrico que conduziu Bolsonaro ao longo da orla carioca é um dos pontos centrais da investigação. Até o momento, a PF afirma não ter conseguido identificar quem era o proprietário do veículo e como se deu sua contratação, o que levanta dúvidas sobre o uso de recursos públicos para fins eleitorais.
Apesar de ter sido marcada para o dia 11 de março deste ano, a oitiva de Silas Malafaia não ocorreu. A escrivã da PF encarregada da diligência relatou que tentou contato com o pastor por diversos canais disponíveis nos sistemas oficiais da corporação, mas não teve sucesso. Nenhum dos telefones cadastrados foi atendido, tampouco apresentava acesso ao WhatsApp. O documento, assinado pelo delegado Manoel Vieira da Paz Filho, determina a intimação formal de Malafaia com base no artigo 6º do Código de Processo Penal, o que indica que o pastor não pode simplesmente se recusar a depor.
Em resposta à coluna de Paulo Cappelli, Malafaia disse que não foi procurado oficialmente pela Polícia Federal e afirmou desconhecer qualquer tentativa de contato. Ele também revelou que já tem conhecimento das informações que os investigadores pretendem esclarecer, insinuando que sua participação se dará no campo do esclarecimento e não como suspeito de envolvimento direto. A fala do líder evangélico reacende a polêmica sobre o uso da máquina pública em eventos com potencial eleitoral e reforça o papel das lideranças religiosas no cenário político nacional.
A investigação avança como um dos muitos desdobramentos que envolvem o ex-presidente Bolsonaro após sua derrota nas urnas. A presença de Braga Netto no inquérito indica que a PF busca entender todo o planejamento de campanha sob a ótica do uso de eventos oficiais. A tentativa de ouvir Malafaia se insere nesse contexto, uma vez que o pastor teve papel de destaque nas manifestações públicas de apoio ao ex-presidente, especialmente em atos que misturavam religião, política e agenda institucional. A falta de transparência sobre os recursos empregados e os contratos firmados para a realização do evento do bicentenário da Independência é vista como um ponto sensível pela equipe de investigação, que procura cruzar dados para identificar se houve favorecimento ilícito à campanha bolsonarista.
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