quinta-feira, 19 de junho de 2025

PF NÃO ENCONTRA MALAFAIA PARA INTERROGATÓRIO

A Polícia Federal tentou intimar o pastor Silas Malafaia para prestar depoimento em uma investigação que mira o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ex-vice na chapa eleitoral de 2022, o general Braga Netto. A apuração gira em torno da suspeita de peculato, crime que envolve desvio de recursos públicos, ligado ao evento oficial que celebrou os 200 anos da Independência do Brasil, realizado em setembro de 2022 no Rio de Janeiro. A suspeita é de que o ato, bancado com estrutura estatal, tenha tido forte conotação eleitoral em benefício da campanha de reeleição de Bolsonaro.

De acordo com um documento da própria Polícia Federal, a oitiva de Malafaia foi solicitada pelo Ministério Público Federal com base no entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, que concluiu que houve “viés eleitoral” e uso indevido de bens e serviços públicos durante o evento. O MPF argumenta que o envolvimento do pastor pode ajudar a esclarecer como a organização do ato foi conduzida, principalmente no que diz respeito à estrutura utilizada e aos responsáveis pela sua execução. A menção ao trio elétrico que conduziu Bolsonaro ao longo da orla carioca é um dos pontos centrais da investigação. Até o momento, a PF afirma não ter conseguido identificar quem era o proprietário do veículo e como se deu sua contratação, o que levanta dúvidas sobre o uso de recursos públicos para fins eleitorais.

Apesar de ter sido marcada para o dia 11 de março deste ano, a oitiva de Silas Malafaia não ocorreu. A escrivã da PF encarregada da diligência relatou que tentou contato com o pastor por diversos canais disponíveis nos sistemas oficiais da corporação, mas não teve sucesso. Nenhum dos telefones cadastrados foi atendido, tampouco apresentava acesso ao WhatsApp. O documento, assinado pelo delegado Manoel Vieira da Paz Filho, determina a intimação formal de Malafaia com base no artigo 6º do Código de Processo Penal, o que indica que o pastor não pode simplesmente se recusar a depor.

Em resposta à coluna de Paulo Cappelli, Malafaia disse que não foi procurado oficialmente pela Polícia Federal e afirmou desconhecer qualquer tentativa de contato. Ele também revelou que já tem conhecimento das informações que os investigadores pretendem esclarecer, insinuando que sua participação se dará no campo do esclarecimento e não como suspeito de envolvimento direto. A fala do líder evangélico reacende a polêmica sobre o uso da máquina pública em eventos com potencial eleitoral e reforça o papel das lideranças religiosas no cenário político nacional.

A investigação avança como um dos muitos desdobramentos que envolvem o ex-presidente Bolsonaro após sua derrota nas urnas. A presença de Braga Netto no inquérito indica que a PF busca entender todo o planejamento de campanha sob a ótica do uso de eventos oficiais. A tentativa de ouvir Malafaia se insere nesse contexto, uma vez que o pastor teve papel de destaque nas manifestações públicas de apoio ao ex-presidente, especialmente em atos que misturavam religião, política e agenda institucional. A falta de transparência sobre os recursos empregados e os contratos firmados para a realização do evento do bicentenário da Independência é vista como um ponto sensível pela equipe de investigação, que procura cruzar dados para identificar se houve favorecimento ilícito à campanha bolsonarista.

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