quinta-feira, 26 de junho de 2025

PSB MOSTRA DESLEALDADE A LULA NO CONGRESSO, SÓ PEDRO FOI FIEL

O resultado da votação da Câmara dos Deputados que derrubou o decreto presidencial sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) expôs fissuras inesperadas na base aliada do governo Lula, revelando contradições no comportamento de partidos que, em tese, compõem o arco de sustentação do Planalto. Um dos pontos que mais chamou atenção foi a postura do Partido Socialista Brasileiro (PSB), sigla do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. Em um movimento que provocou surpresa nos bastidores de Brasília, nove parlamentares do PSB votaram contra o governo, contribuindo decisivamente para a revogação da medida.

O decreto em questão havia sido editado pelo Executivo para manter benefícios fiscais sobre o IOF em determinadas operações, atendendo a critérios técnicos e objetivos de política econômica. No entanto, a derrubada da medida no plenário foi interpretada por analistas como uma derrota simbólica para o governo e como mais um sinal de fragilidade na articulação com a Câmara. A participação ativa de deputados do PSB na construção dessa derrota é vista como um gesto ambíguo e politicamente carregado, sobretudo porque o partido ocupa um espaço central no governo com Alckmin na vice-presidência e à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Entre os deputados pernambucanos da legenda, apenas Pedro Campos — irmão do prefeito do Recife, João Campos, e filho do ex-governador Eduardo Campos — permaneceu fiel ao governo na votação. Líder da bancada do PSB na Câmara, Pedro foi o único da legenda em Pernambuco a seguir a orientação da liderança governista, reforçando o compromisso com o Planalto num momento de tensão. A postura isolada do deputado reforça seu papel como articulador nacional e como um dos quadros mais alinhados à estratégia de Lula no Congresso.

Nos corredores do poder, a atitude da maioria dos parlamentares do PSB foi recebida com perplexidade. Embora o partido mantenha um discurso público de lealdade ao presidente, essa votação reforçou o diagnóstico de que o PSB vive um dilema interno, dividido entre sua origem progressista e as pressões locais de seus representantes em regiões onde o bolsonarismo ainda exerce influência. O comportamento da bancada também foi lido como um sinal de insatisfação com a condução política do governo e com o espaço ocupado pela legenda nas decisões estratégicas da gestão federal.

A desarticulação da base na votação do IOF soma-se a outros episódios recentes em que o governo não conseguiu conter a infidelidade de partidos aliados, especialmente quando as matérias envolvem interesses fiscais, econômicos ou de cunho federativo. Deputados do PSB que votaram contra o governo justificaram a posição alegando impactos negativos do decreto em determinados setores econômicos de suas bases eleitorais, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Apesar disso, não houve qualquer coordenação interna para buscar uma alternativa consensual ou sequer um esforço público para explicar o voto dissidente ao núcleo do Executivo.

Na prática, a votação da medida provisória serviu de termômetro para medir a coesão das legendas da base, evidenciando que, mesmo com um vice-presidente em sua fileira, o PSB está longe de apresentar uma fidelidade plena. Para o Palácio do Planalto, o episódio acende o alerta e impõe a necessidade de reavaliar a forma como partidos historicamente aliados estão sendo tratados. A ausência de punições ou represálias dentro do PSB após a votação também é reveladora: demonstra que o partido permite graus de autonomia que podem comprometer a estabilidade da coalizão governista em votações futuras, principalmente aquelas que demandam quórum qualificado.

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