quinta-feira, 10 de julho de 2025

ALCKMIN AFIRMA QUE TRUMP ESTÁ MAL INFORMADO SOBRE PROCESSOS CONTRA BOLSONARO E CRITICA INTERFERÊNCIA ESTRANGEIRA

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), rebateu nesta quarta-feira (9) as declarações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Durante entrevista coletiva concedida após um evento oficial do ministério, Alckmin classificou como “totalmente equivocada” a leitura de Trump sobre os processos judiciais enfrentados por Bolsonaro no Brasil, sugerindo que o líder norte-americano está mal-informado sobre o funcionamento das instituições brasileiras.

Alckmin destacou que a Justiça brasileira tem atuado com independência e que o caso do ex-presidente é uma questão exclusivamente interna do Judiciário. “O presidente Lula, por exemplo, ficou quase dois anos preso e ninguém questionou a legitimidade do Judiciário brasileiro. Nunca houve interferência externa, nem do Executivo e muito menos de governos estrangeiros. Isso demonstra a solidez das instituições do Brasil”, disse o vice-presidente. Ele também reforçou que qualquer tentativa de ingerência por parte de lideranças estrangeiras representa um desrespeito à soberania nacional.

Mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) convocou o encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos sobre uma nota divulgada pela embaixada norte-americana em Brasília, que ecoa as críticas de Trump contra a atuação da Justiça brasileira no caso Bolsonaro. O texto expressa apoio ao ex-presidente brasileiro e classifica as investigações como parte de uma “perseguição política” injusta e incompatível com os princípios democráticos.

Na declaração publicada pela embaixada, o governo norte-americano afirma que Jair Bolsonaro e sua família “têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos” e que as ações judiciais contra ele e seus aliados “são vergonhosas e desrespeitam as tradições democráticas do Brasil”. Ainda segundo o comunicado, Washington estaria acompanhando de perto o desenrolar dos processos, embora tenha evitado comentar se haverá ações específicas do Departamento de Estado sobre o caso.

A manifestação causou desconforto diplomático e foi considerada inoportuna por autoridades brasileiras. Nos bastidores do Itamaraty, interlocutores apontam que a embaixada dos Estados Unidos extrapolou seu papel institucional ao adotar um tom político sobre um tema que tramita exclusivamente nas instâncias judiciais brasileiras. A crise ocorre em um momento delicado, com o Brasil buscando manter relações equilibradas com a gestão republicana em Washington, mas sem abrir mão de sua autonomia jurídica.

O ex-presidente Jair Bolsonaro responde a diversos processos na Justiça brasileira, incluindo investigações sobre tentativa de golpe de Estado, uso indevido da estrutura do Estado, irregularidades durante a pandemia e inserção fraudulenta de dados em sistemas oficiais. Embora mantenha forte apoio entre setores conservadores, especialmente militares e religiosos, Bolsonaro tem enfrentado um cerco jurídico que ameaça sua elegibilidade nas próximas eleições.

A fala de Alckmin ecoa um movimento mais amplo do governo Lula, que busca defender a institucionalidade democrática e reforçar que as ações contra Bolsonaro não são motivadas por razões políticas, mas seguem estritamente o devido processo legal. A reação do vice-presidente também serve como recado direto à comunidade internacional: o Brasil não aceita interferências em sua soberania judicial, nem será pautado por declarações de líderes estrangeiros sobre seus processos internos.

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