segunda-feira, 7 de julho de 2025

CACIQUE MARCOS E A NARRATIVA DE PERSEGUIÇÃO: A POLÊMICA EM TORNO DO AINDA PREFEITO DE PESQUEIRA

O cenário político do município de Pesqueira, em Pernambuco, ganhou contornos polêmicos e intensamente debatidos após a cassação do mandato do prefeito Cacique Marcos, o primeiro indígena eleito para governar a cidade. Desde que foi afastado do cargo, nesse mandato o quase ex-gestor tem se mantido firme em uma narrativa pública de que é vítima de perseguição política, tentando associar sua cassação a preconceitos relacionados à sua identidade indígena e à sua representatividade do povo Xukuru, etnia tradicional da região. Em diversas entrevistas e declarações, Cacique Marcos sustenta que há um esforço articulado para deslegitimar sua gestão, atribuindo as críticas e ações judiciais a um contexto de discriminação e rejeição à presença de um indígena no comando do município.

Contudo, o conteúdo das investigações e das acusações apresentadas contra o prefeito indicam um cenário bem mais complexo do que a explicação única de perseguição étnica. As denúncias levantadas pelas autoridades competentes envolvem suspeitas de abuso de poder econômico durante o período eleitoral, o que pode ter influenciado diretamente no resultado das urnas. Além disso, surgiram indícios de direcionamento de licitações em favor de aliados políticos, levantando dúvidas sobre a lisura dos processos administrativos realizados em sua gestão. Há também apontamentos sérios sobre o uso irregular de recursos públicos, incluindo a movimentação de verbas sem justificativa clara, além da realização de transações financeiras com empresários locais de forma pouco transparente.

Um dos episódios que mais chama a atenção diz respeito à aquisição de veículos de alto valor, especialmente uma caminhonete modelo Hilux, cujo processo de compra ou negociação teria ocorrido em circunstâncias consideradas questionáveis pelas autoridades responsáveis pela apuração dos fatos. Documentos e registros bancários indicam movimentações financeiras via transferências PIX, em valores significativos, que teriam ligação direta com a compra do veículo, levantando suspeitas sobre o uso de dinheiro público para fins particulares ou favorecimento de terceiros.

Enquanto a narrativa de perseguição segue sendo sustentada pelo ainda prefeito, opositores políticos e representantes da sociedade civil têm criticado a estratégia, afirmando que a tentativa de se blindar com o argumento do preconceito étnico não pode ser usada como escudo para impedir a apuração de eventuais irregularidades na gestão pública. O entendimento majoritário nesses setores é que, independentemente da origem étnica de um gestor, todos devem estar sujeitos às mesmas regras, normas legais e exigências de transparência e responsabilidade no trato com o dinheiro público. A condição de indígena, embora simbólica e representativa, não torna nenhum político imune ao cumprimento da lei.

O caso de Cacique Marcos permanece em debate em Pesqueira e fora dela, não apenas pelo simbolismo de sua eleição, mas pelos desdobramentos jurídicos e políticos que ainda devem se prolongar. O processo segue em análise por diferentes instâncias, com novas fases de investigação sendo aguardadas, enquanto o ainda prefeito continua afirmando que tudo se trata de uma tentativa de calar a voz de um representante indígena que ousou ocupar o poder.

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