O PARTIDO DOS TRABALHADORES JÁ TEVE SEUS DIAS DE GLÓRIA
O Partido dos Trabalhadores em Pernambuco já teve musculatura política. Em determinado momento, chegou a ter uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados, com nomes de peso como Humberto Costa, Fernando Ferro, Paulo Rubem Santiago e João Paulo. João Paulo inclusive teve a façanha de se eleger e reeleger prefeito do Recife e ainda fazer o seu sucessor João da Costa. Essa força, no entanto, jamais se converteu em um projeto robusto de poder no estado. Mesmo com quadros preparados, faltou visão estratégica, articulação regional e, sobretudo, coragem para disputar o protagonismo político com seus antigos aliados – especialmente o PSB. Vamos dar uma passada NA LUPA desta quinta-feira.
O ponto de virada foi a perda da Prefeitura do Recife, a chamada “joia da coroa” petista. Quando o PSB percebeu que poderia deixar o PT a reboque de seus interesses, não hesitou. Tomou o Recife das mãos do PT com Eduardo Campos à frente, e a partir daí o partido entrou em declínio. O PT deixou de ser referência de poder e passou a ser satélite. As eleições municipais seguintes só confirmaram essa tendência de queda, e o partido nunca mais se reergueu na capital nem no interior. Jogada calculada com um socialista na vice-prefeitura, Milton Coelho, que depois foi deputado federal. A ideia de colocar um nome do PSB foi o verdadeiro “comendo pelas beiras” para na hora certa puxar o tapete e meter Geraldo Júlio na Prefeitura que era o forte seguro do PT. Houve incompetência ou inveja dizem que um petista graúdo que já havia tentado várias vezes cargos majoritários e nunca havia conseguido, tramou a queda do PT na prefeitura.
Com o passar do tempo, o PT em Pernambuco se transformou em um partido cartorial. Tudo gira em torno de uma figura: o senador Humberto Costa. Ele é o “dono da chave do cofre” e o “guardião da marca”. A estrutura do partido se organizou para manter seu mandato no Senado, e todos os movimentos do PT estadual orbitam ao redor dessa meta. É uma lógica personalista que impede a renovação e inviabiliza qualquer plano de crescimento sustentável. Dessa leva toda só sobrou o resistente Fernando Ferro que nunca se dobrou a caprichos e acordos nocivos. Ferro após cinco mandatos de deputado federal, pagou o preço da coerência: ficou sem mandato e sem vez. Até hoje ninguém entende isso.
MARÍLIA ARRAES: A CHANCE QUE O PT DESPERDIÇOU
Quando surgiu a figura de Marília Arraes, o PT teve a rara oportunidade de oxigenar sua imagem e renovar suas lideranças. Jovem, combativa e com forte apelo popular, Marília representava uma nova geração. Mas a velha estrutura não permitiu. A deputada foi rifada em negociações com o PSB e acabou migrando para o Solidariedade. O partido perdeu não só uma liderança, mas uma chance real de voltar ao protagonismo no estado. Foi mais um erro estratégico que se pagará por muitos anos.
Mesmo quando tem força nacional, como no atual governo do presidente Lula, o PT de Pernambuco continua preso à sombra do PSB. É um paradoxo cruel. Em Brasília, comanda ministérios, preside a República e articula o Congresso. Mas, em Pernambuco, atua como coadjuvante. Em 2026, tudo indica que mais uma vez o PT entregará sua força eleitoral para negociar migalhas numa mesa majoritária dominada pelos socialistas. Como canta Ney Matogrosso: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Petistas históricos perceberam que estavam cercados de “queijo do reino” no PT pernambucano: vermelho e por fora e amarelo por dentro, como diz um ex-deputado petista que também ficou a ver navios após inúmeros mandatos consecutivos na ALEPE.
Hoje, o PT de Pernambuco vive o pior de seus momentos. A bancada estadual é praticamente inexistente. Os prefeitos do partido são poucos e, o que é pior, não apoiam candidatos da própria legenda. Isso cria um ciclo de enfraquecimento sem fim. Sem base parlamentar e sem enraizamento nos municípios, não há fôlego para pensar em 2026 como protagonista. O partido virou um “símbolo”, mas perdeu a função de representar algo concreto na política estadual. Somente Humberto e Teresa, o resto tá resumido a Carlos Veras.
UMA IMAGEM MANTIDA PARA NÃO PERDER O CARTAZ COM LULA
Apesar da fragilidade interna, o PT de Pernambuco ainda recebe atenção de outras siglas por um único motivo: Humberto Costa tem ligação direta com Lula. Manter as aparências com o senador é, para muitos, uma forma de preservar bom relacionamento com o presidente. Como ironizou um deputado estadual em reserva: “faz-se de conta que o PT tem força em Pernambuco, só pra não perder o cartaz com Lula”. Essa encenação, porém, engana cada vez menos.
A chegada de 2026 pode selar de vez o papel do PT em Pernambuco como um partido periférico. Sem nomes novos, sem base, sem projeto estadual, e com um comando centralizado que recusa mudanças, o partido caminha para se tornar irrelevante. Para evitar o colapso, seria necessário romper com as velhas amarras, abrir espaço para novas lideranças e formular uma estratégia real de crescimento. Caso contrário, continuará sendo o que é hoje: um partido que já foi grande, mas nunca soube como ser governo de verdade em seu próprio estado. Hoje o ex-deputado Fernando Ferro parece ser o único que defende protagonismo e luta por uma candidatura própria a governador e senador no PT no estado. “Time que não joga não ganha campeonato”, diz Ferro. Apesar do apelo o pragmatismo vale mais e ninguém tá nem aí pra essa ideia. A única meta é reeleger Humberto Costa e nada mais. E enquanto isso, a política segue seu curso, implacável com quem se recusa a mudar. O PT fica cada vez menor em Pernambuco. É isso aí.
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