IML de Garanhuns: mais que paternidade política, uma conquista da população
A tão aguardada construção do Instituto de Medicina Legal (IML) de Garanhuns, no Agreste Meridional, finalmente ganhou um passo concreto com a assinatura da data de licitação pela governadora Raquel Lyra. A decisão representa um avanço histórico para uma região que engloba quase 40 municípios e que há décadas sofre com a ausência desse equipamento essencial para a dignidade das famílias e o funcionamento da Justiça.No entanto, o que deveria ser uma celebração coletiva da sociedade civil e dos agentes públicos virou uma espécie de “guerra de paternidade”. Parlamentares estaduais, federais, ex-gestores e até lideranças municipais agora disputam o título de “pai”, “mãe” ou “padrinho” do novo IML, como se uma obra dessa relevância tivesse um único dono ou autor. A verdade é que o IML de Garanhuns não nasce do ego político, mas da urgência de um povo cansado de levar seus mortos para cidades distantes como Caruaru e Recife em busca de necropsia.
Durante anos, famílias já fragilizadas pela dor da perda ainda enfrentavam a angústia de esperar por laudos, transporte e burocracias. Casos de violência, acidentes e mortes naturais precisavam ser transferidos para longe, retardando sepultamentos e aumentando o sofrimento de milhares de pessoas. Essa realidade não tem cor partidária nem sigla. Tem urgência, tem dor, tem clamor.
A sensibilidade da governadora em marcar a licitação rompe um ciclo de abandono. Mas é importante reconhecer que esse avanço só aconteceu graças à luta contínua da população, da imprensa regional, de lideranças comunitárias e de diversos agentes políticos — de diferentes mandatos, partidos e épocas — que pressionaram, protocolaram ofícios e mantiveram o tema vivo na agenda pública.
A tentativa de monopolizar a autoria desse feito é desrespeitosa com o povo e até infantil. Mais importante do que saber quem assinou o primeiro ofício, é garantir que a obra aconteça, que seja concluída com qualidade e que o IML funcione com estrutura adequada, equipe capacitada e atendimento digno.
Ao invés de brigar pela autoria da ideia, a classe política deveria se unir para fiscalizar, cobrar prazos e assegurar o bom funcionamento do IML. Essa é a verdadeira paternidade ou maternidade que o povo espera: responsabilidade com o resultado, não com os aplausos.
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