Em declarações contundentes dadas nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevou o tom ao comentar as novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Segundo o petista, a medida tem motivações políticas e está diretamente ligada à atuação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Lula acusou Eduardo de ter intermediado articulações com o ex-presidente norte-americano Donald Trump para influenciar uma retaliação contra o Brasil como resposta ao avanço das investigações judiciais envolvendo o ex-chefe do Executivo.
De acordo com Lula, o gesto do governo norte-americano é uma interferência inaceitável na soberania do país e fere os princípios históricos da relação diplomática entre as duas nações. Ele afirmou que a ação se baseia em um conteúdo “desrespeitoso” enviado a Trump e revelou que a carta — publicada no site do ex-presidente americano — parece ter sido escrita com viés eleitoral, na tentativa de explorar politicamente a aliança entre Trump e Bolsonaro às vésperas de eleições importantes nos dois países.
Para o presidente brasileiro, há uma tentativa explícita de transformar a diplomacia em espetáculo, substituindo canais oficiais por mensagens divulgadas em redes sociais. Em suas palavras, “não é aceitável fazer diplomacia por vídeo, nem por site pessoal”. O presidente também ironizou o conteúdo da carta, dizendo ter pensado inicialmente que se tratava de um material apócrifo, devido ao formato da publicação.
Lula afirmou ainda que está em curso uma reação institucional à altura do ataque. O Itamaraty já iniciou tratativas diplomáticas com os Estados Unidos e, segundo o presidente, eventuais sanções ou medidas comerciais serão avaliadas com base na Lei da Reciprocidade, aprovada recentemente pelo Congresso Nacional. A legislação autoriza o Brasil a adotar sanções equivalentes às que forem impostas por outros países, e está sendo considerada como principal ferramenta de resposta.
O chefe do Executivo informou que criará um comitê com representantes do setor produtivo e da indústria para avaliar os próximos passos e repensar a política comercial com os Estados Unidos. Ele também destacou que o governo brasileiro poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para questionar a legalidade da medida e denunciar o caráter político da retaliação tarifária. Segundo Lula, o Brasil buscará negociar, mas, caso os canais diplomáticos não surtam efeito, o governo não hesitará em retaliar os norte-americanos de forma proporcional.
Na entrevista à TV Record, o presidente reforçou que o país tem mecanismos institucionais para se proteger de ataques e pressões internacionais e afirmou que “quem tem que gostar e respeitar o Brasil são os brasileiros”. Ele deixou claro que o governo não permitirá que disputas judiciais internas sejam transformadas em armas diplomáticas, tampouco aceitará que interesses eleitorais interfiram nas relações exteriores do país.
Ao responsabilizar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo pelo início do conflito, Lula indicou que o episódio marca mais um capítulo da polarização entre os dois campos políticos que continuam disputando espaço dentro e fora do país. Para o petista, a conduta de Eduardo Bolsonaro — ao supostamente incitar Trump contra o Brasil — mostra não apenas deslealdade com a pátria, mas também uma tentativa de sabotar o governo por meio de pressões internacionais.
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