Racha na direita brasileira se agrava com tarifaço de Trump e expõe divisões no campo conservador
A recente ofensiva comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve efeitos imediatos e turbulentos não apenas no comércio internacional, mas também no já tensionado ambiente político brasileiro. Com o anúncio de um novo pacote de tarifas sobre produtos agrícolas e industriais de países considerados concorrentes, incluindo o Brasil, a direita brasileira entrou em ebulição. O que era um campo aparentemente coeso em torno do legado de Jair Bolsonaro agora se fragmenta diante da necessidade de equilibrar alinhamentos ideológicos com interesses econômicos concretos.Parte expressiva do Congresso Nacional, especialmente parlamentares ligados ao agronegócio e ao setor industrial, viu nas medidas protecionistas norte-americanas uma ameaça real às exportações brasileiras. Diante disso, esse grupo se mobilizou rapidamente e iniciou articulações para uma visita oficial a Washington, na tentativa de convencer o governo americano a reconsiderar a implementação do chamado “tarifaço”. Deputados e senadores envolvidos na ofensiva diplomática argumentam que a relação bilateral construída nos últimos anos precisa ser preservada com base no pragmatismo e na proteção dos interesses econômicos nacionais.
Enquanto isso, o núcleo bolsonarista mais fiel mantém sua linha de defesa irrestrita ao governo Trump. Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, intensificou sua atuação como ponte informal entre o Palácio do Planalto norte-americano e a direita brasileira. Defensor fervoroso da retomada do trumpismo global, Eduardo tem reforçado que os valores ideológicos compartilhados entre os dois países devem prevalecer sobre eventuais desavenças comerciais. Para ele e seus aliados, qualquer crítica a Trump seria interpretada como traição aos princípios do movimento conservador internacional.
A tensão entre as duas alas se intensificou nas últimas semanas, com trocas de farpas veladas nas redes sociais e nos bastidores do Congresso. Enquanto os bolsonaristas acusam os liberais de “fraqueza diplomática” e “submissão à velha política globalista”, os defensores da reaproximação comercial alertam que o alinhamento automático com Trump pode custar bilhões à economia brasileira e prejudicar setores estratégicos, como o agroexportador e a indústria de base. O debate se tornou ainda mais delicado com a proximidade das eleições municipais, quando alianças locais dependem de consensos nacionais que, neste momento, parecem cada vez mais distantes.
A Casa Branca, por sua vez, não tem sinalizado disposição para alterar sua política comercial, o que pressiona ainda mais os congressistas brasileiros a encontrarem soluções por conta própria. Nas entrelinhas, a crise expõe a ausência de uma liderança unificadora no campo conservador nacional desde a inelegibilidade de Bolsonaro e revela uma disputa subterrânea por protagonismo entre diferentes vertentes da direita. O embate entre pragmatismo econômico e fidelidade ideológica promete se aprofundar, deixando claro que a direita brasileira vive um novo momento: menos homogênea, mais conflituosa e sem uma voz única diante dos desafios internacionais.
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