quinta-feira, 17 de julho de 2025

TRUMP BAGUNÇA A DIREITA BRASILEIRA COM AMEAÇAS E AÇÕES ESTRATÉGICAS QUE ATINGEM EMPRESÁRIOS E FRAGMENTAM ALIANÇAS PARA 2026

As recentes movimentações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, direcionadas ao Brasil, produziram um efeito destruidor no campo político da direita brasileira. A metáfora da “bomba atômica” usada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ajuda a entender o estrago, mas não esconde o fato de que o impacto atingiu aliados em vez dos adversários. A ofensiva de Trump, marcada por ameaças comerciais e ações diretas contra o Brasil, tinha como intenção abalar instituições como o Supremo Tribunal Federal, mas, na prática, o que se viu foi um baque profundo em setores estratégicos para o bolsonarismo, como o empresariado e o agronegócio, que vinham sustentando politicamente Jair Bolsonaro e sua base. Ao perceberem o risco de instabilidade econômica e diplomática, muitos desses apoiadores começaram a recuar, criando uma onda de incerteza nos bastidores da pré-campanha presidencial e nos planos regionais para as eleições de 2026.

Nos estados, onde a direita articulava um tabuleiro sofisticado para garantir maioria no Senado, o estrago foi ainda mais visível. A estratégia era lançar dois nomes por estado: um mais radical, para agradar à base bolsonarista, e outro mais moderado, que ficaria em débito com Bolsonaro e, teoricamente, alinhado para futuras votações como a de impeachment de ministros do STF. Mas esse plano começou a ruir. No Rio de Janeiro e no Distrito Federal, os arranjos estão emperrados. Claudio Castro (PL), governador fluminense, não conseguiu assegurar a bênção de Bolsonaro para disputar o Senado. Já no DF, Ibaneis Rocha (MDB) enfrenta o mesmo dilema, ao passo que sua vice, Celina Leão (PP), planeja encabeçar uma chapa ao governo. Enquanto isso, Michelle Bolsonaro e Bia Kicis (PL) aparecem como pré-candidatas ao Senado em uma composição paralela, evidenciando a divisão interna.

Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas, que até então era uma das principais apostas do bolsonarismo para a disputa presidencial, recebeu sinalizações do empresariado de que sua candidatura só será viável se romper com o campo de Bolsonaro. Ameaçado de perder esse apoio crucial, Tarcísio voltou a considerar disputar a reeleição em 2026, estratégia que exige menos exposição e evita conflitos diretos com as alas mais radicais da direita. Já em Alagoas, as peças estão se mexendo de forma mais sutil, mas não menos significativa. A nomeação de Marluce Caldas, tia do prefeito de Maceió, JHC, para o STJ, sinaliza uma aproximação do governo federal com o grupo de JHC, que deverá deixar o PL e retornar ao PSB. O movimento abre caminho para uma articulação surpreendente com Renan Calheiros (MDB), que pode formar uma dobradinha com JHC para o Senado, enquanto o ministro Renan Filho (Transportes) voltaria a disputar o governo estadual. Uma composição ainda mais ousada colocaria lado a lado Renan Calheiros e Arthur Lira (PP), adversários históricos, em uma chapa conjunta ao Senado.

No meio dessa confusão, a esquerda também começa a agir com mais pragmatismo. A conversa entre PT, PSB e outros aliados nos estados está cada vez mais voltada à ideia de alianças estratégicas, mesmo que envolvam setores conservadores, com o único objetivo de derrotar os candidatos ligados a Bolsonaro. Esse movimento revela que a fragilidade atual da direita está criando uma brecha política a ser explorada, inclusive com possíveis composições improváveis. O impacto das ameaças e medidas de Trump — que incluem investigações comerciais e riscos de sanções econômicas — desestabilizou a base de confiança do bolsonarismo e desencadeou uma reação em cadeia que ainda está longe de acabar. No lugar de fortalecer Bolsonaro e seus aliados, o presidente norte-americano acabou criando uma tempestade interna que embaralha candidaturas, compromete apoios e deixa a direita sem uma estratégia clara para 2026.

Nenhum comentário: