Trump impõe tarifa contra o Brasil e desorganiza estratégia da direita: bolsonarismo se vê encurralado e esquerda tenta ocupar espaço perdido
A base política do ex-presidente Jair Bolsonaro foi surpreendida nesta semana por um movimento que deveria representar uma vitória simbólica, mas terminou por desorganizar toda a estratégia da direita brasileira. A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre as importações de produtos brasileiros atingiu em cheio os interesses econômicos do país e causou desgaste político imediato entre os aliados de Bolsonaro. O anúncio, que vinha sendo precedido por discursos inflamados de Eduardo Bolsonaro — atualmente autoexilado na Flórida — e apelidados de “tarifas Moraes” por ele próprio, deixou perplexos até os apoiadores mais fiéis do ex-presidente. A intenção era punir o ministro Alexandre de Moraes, mas o efeito colateral atingiu em cheio a própria base bolsonarista.
O reflexo foi imediato. Um dos principais nomes do bolsonarismo no Sudeste, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, chegou a elogiar a postura de Trump de maneira cautelosa, mas recuou publicamente em menos de 24 horas, depois da péssima repercussão entre empresários paulistas, principais afetados pela nova taxação. Tentando conter os danos, Tarcísio viajou a Brasília para se reunir com Bolsonaro e avaliar como administrar a crise, que ameaça minar a narrativa construída pela direita sobre o alinhamento automático com os Estados Unidos. A situação colocou os bolsonaristas na defensiva, oferecendo à esquerda uma oportunidade inédita de reação no campo simbólico e midiático.
A oposição progressista, que vinha acuada nas redes sociais e ausente das ruas desde a vitória apertada de Lula em 2022, enxergou no erro estratégico uma chance de reorganização política. A tentativa do deputado federal Guilherme Boulos de realizar uma manifestação em São Paulo nesta semana, ainda que com público modesto, gerou repercussão inesperada quando foi interrompido por um cidadão comum ao microfone — um episódio que viralizou nas redes. Mas a surpresa maior veio com o desdobramento posterior: as críticas à postura de Bolsonaro e seu filho Eduardo se espalharam até entre setores antes silenciosos, e a indignação popular com o tarifaço abriu caminho para que a esquerda resgatasse discursos sociais mais contundentes.
O próprio deputado estadual Coronel Alberto Feitosa, um dos mais leais defensores do bolsonarismo em Pernambuco, admitiu publicamente que a medida de Trump foi um erro. Para ele, o ideal seria que as sanções se limitassem a membros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes. Mas, apesar do revés, Feitosa manteve o tom combativo e indicou que a direita ainda espera por movimentos mais firmes do Senado ou mesmo do STF, alertando que “vem mais coisa por aí” caso não haja recuo. A fala revela que, mesmo diante do impacto negativo, parte da base de Bolsonaro ainda tenta sustentar a narrativa de confronto institucional.
A nova estratégia agora seria convencer Donald Trump a rever a decisão, sob o argumento de que o tiro atingiu os aliados e não os alvos imaginados. Bolsonaro já articula mensagens indiretas ao republicano norte-americano, temendo que a continuidade da medida comprometa não apenas sua imagem no Brasil, mas também a viabilidade de seu sucessor nas eleições presidenciais de 2026. Enquanto isso, o presidente Lula, que vinha apanhando nas redes sociais e enfrentando dificuldades para reagir politicamente, recebeu de presente um discurso pronto. O impacto da medida nos setores produtivos, especialmente em São Paulo, pode ser o argumento que faltava para recolocar o governo federal no centro do embate político.
A esquerda, ciente do novo momento, organiza para este final de semana uma manifestação em São Paulo com foco na desigualdade social, na defesa do interesse nacional e em ataques coordenados ao que chamam de “aliança dos ricos”, simbolizada por Trump e Bolsonaro. No centro das críticas estarão os prejuízos econômicos provocados pela tarifa e a tentativa fracassada da direita de transformar a crise institucional em um episódio de vingança. O que era para ser uma vitória simbólica para o bolsonarismo virou um problema de grandes proporções e, no tabuleiro político, a esquerda volta a ter chances reais de recuperar o protagonismo perdido.
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