A decisão da governadora foi interpretada por analistas e interlocutores políticos como mais um indício de que a relação institucional e pessoal entre ela e o presidente atravessa um momento de enfraquecimento. Ao longo de seu mandato, Raquel buscou manter um diálogo constante com o Palácio do Planalto, preservando espaço para parcerias e recursos federais. No entanto, desde a última visita presidencial ao Estado, no fim de maio, quando Lula esteve em Salgueiro para autorizar obras da transposição do Rio São Francisco, sinais de afastamento começaram a ficar mais evidentes.
Fontes próximas ao governo estadual apontam que a principal ponte de interlocução com o Planalto, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, teria diminuído o nível de atenção às demandas pernambucanas. Dois episódios são frequentemente citados como reflexo dessa mudança de clima: a postura discreta do governo federal diante do projeto de recuperação do metrô do Recife e a exoneração de Danilo Cabral da Superintendência da Sudene — medida que, segundo interpretações, favoreceu interesses do Ceará na disputa por investimentos da Transnordestina.
A situação se agravou com a redução no ritmo de liberação de recursos do Novo PAC para obras estruturantes em Pernambuco. Outro episódio que não passou despercebido no Palácio do Campo das Princesas foi o convite tardio para os eventos presidenciais desta quinta-feira: Raquel teria sido avisada quase um dia depois de João Campos, seu principal adversário político no Estado.
Diante desse cenário, a governadora manteve firme seu próprio itinerário, reforçando compromissos no Sertão e destacando investimentos estaduais na região. Nesta sexta (15), prosseguiu a agenda sertaneja, com compromissos em Salgueiro e Floresta. Para observadores políticos, a escolha de não alterar o roteiro para se encontrar com Lula envia um recado claro: Raquel pretende consolidar uma atuação independente, sem subordinar sua estratégia administrativa e política ao calendário do governo federal.
Nos bastidores, a avaliação é de que o gesto pode ter desdobramentos na dinâmica eleitoral de 2026, quando tanto Lula quanto Raquel devem desempenhar papéis centrais no tabuleiro político de Pernambuco. Enquanto o presidente mantém proximidade com João Campos e outros aliados históricos, a governadora dá sinais de que aposta no fortalecimento de sua própria base, especialmente em regiões estratégicas como o Sertão.
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