terça-feira, 9 de setembro de 2025

A INDEPENDÊNCIA É UM MITO DO PONTO DE VISTA ECONÔMICO E SOCIAL

Geovani Oliveira
O 7 de Setembro costuma ser celebrado como marco da liberdade nacional. O grito às margens do Ipiranga é ensinado nas escolas como símbolo de rompimento, autonomia e construção de um Brasil livre. Mas, quando analisamos com mais profundidade, percebemos que a independência é, na verdade, um mito. Do ponto de vista econômico, nenhum país do mundo contemporâneo consegue sustentar-se de maneira isolada. Vivemos em uma era de globalização e interdependência, em que matérias-primas, tecnologias e serviços atravessam fronteiras diariamente. Basta um olhar rápido: até o smartphone pelo qual você lê estas linhas não é produto de uma independência, mas de uma rede internacional que envolve fábricas asiáticas, softwares americanos, extração de minerais africanos e uma cadeia logística multinacional.

No campo social, a ideia de independência também se esvai. A sociedade brasileira convive com desigualdades profundas, que se perpetuam em nome de uma lógica de privilégios. Não há liberdade plena quando milhões ainda não têm acesso digno à educação, saúde, trabalho e segurança. A independência só faria sentido se fosse acompanhada de igualdade de oportunidades, mas esta continua distante da realidade. Nem mesmo a política escapa dessa engrenagem. O discurso da soberania nacional é recortado por interesses minoritários, muitas vezes pessoais, de grupos que se autodenominam “donos do poder”. Ao povo resta um papel figurado — de “gado” ou “Maria vai com as outras” —, expressões que, apesar de duras, traduzem a passividade forçada diante de estruturas que não se alteram. Com todo respeito às Marias, o que está em questão não são pessoas, mas a forma como a coletividade é arrastada pela vontade de poucos.

A teoria física também ajuda a compreender esse processo. A Terceira Lei de Newton, que afirma que toda ação gera uma reação de igual intensidade e sentido contrário, pode ser interpretada, com as devidas ressalvas, na arena internacional. Cada decisão tomada por um país provoca respostas, resistências e novas dependências. A política externa é, em grande medida, um tabuleiro de xadrez em que ninguém joga sozinho. A verdadeira independência, portanto, não está na retórica de datas comemorativas nem na tentativa ilusória de isolamento. Ela reside na liberdade individual e coletiva, na busca permanente por justiça e na construção de uma sociedade mais igualitária. Se a independência plena é impossível, cabe à nação perseguir a autonomia relativa e, sobretudo, garantir que seus cidadãos possam viver com dignidade. Independência, no fim das contas, é menos um ponto de chegada e mais um caminho. É o exercício constante de resistir às amarras, questionar os poderes estabelecidos e lutar para que liberdade e igualdade deixem de ser apenas palavras bonitas em discursos oficiais.

Advogado, natural de Garanhuns, e ex-prefeito de Itaquitinga na Mata Norte de Pernambuco.

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