UMA JOGADA DE FAZ DE CONTA SOBRE A ANISTIA NO BRASIL
O TEATRO POLÍTICO DO CENTRÃO
Nos corredores de Brasília, o Centrão articula mais um de seus movimentos típicos: fazer de conta que busca aprovar a anistia para os condenados de 8 de janeiro, quando na verdade prepara terreno para outra jogada. A pressão sobre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é intensa. Caciques pedem que ele paute logo a proposta, não para aprová-la, mas para enterrá-la no voto. É a encenação da política, uma simulação bem calculada para agradar a gregos e troianos. Vamos ver aqui NA LUPA.
FINGIR PARA NEGAR
A lógica é simples e cínica: fingir que vai dar anistia, colocar o tema em pauta, permitir que os aliados de Bolsonaro alimentem esperanças, e depois rejeitar em plenário. Com isso, o Congresso se livra da pressão da direita sem precisar enfrentar diretamente a narrativa de que estaria “se negando a discutir”. É o típico jogo de cena em que a conclusão já está escrita: o “não” virá, mas precedido de um teatro bem ensaiado.
O PAPEL DE TARCÍSIO
Nesse roteiro, Tarcísio de Freitas surge como personagem estratégico. O governador paulista, pré-candidato natural da direita para 2026, precisa mostrar base eleitoral que tentou defender os “patriotas”, mas que esbarrou no sistema. A encenação ajuda a manter sua imagem com o eleitorado conservador sem comprometer sua relação institucional com o Congresso. Assim, ele posa de aliado, mas não carrega o desgaste da derrota.
O CÁLCULO DO CENTRÃO
O Centrão não brinca em serviço quando o assunto é sobrevivência política. Para seus líderes, o tema da anistia é uma bomba-relógio. Enquanto não for enfrentado de vez, Bolsonaro e seus filhos continuarão a usar a promessa como moeda de troca, chantageando Tarcísio e outros nomes da direita em 2026. O plano é simples: liquidar a questão no voto, mostrar que o Congresso não aceitará anistia ampla e retirar esse trunfo da mesa de negociação.
O BASTIDOR DO SENADOR ALCOLUMBRE
Davi Alcolumbre, experiente articulador, sabe o tamanho da encrenca. Pautar o tema significa colocar holofotes no Senado e, ao mesmo tempo, arriscar ruídos com o Planalto e com a base. Mas o movimento do Centrão é calculado: preferem que ele lidere a votação e assuma o ônus de fechar a porta da anistia, enquanto caciques garantem nos bastidores que tudo não passa de um jogo de faz de conta. É o Senado sendo usado como palco para uma encenação política.
O RISCO DO DISCURSO BOLSONARISTA
A direita bolsonarista, por sua vez, terá seu discurso pronto: “tentamos, mas o Congresso não deixou”. Isso alimenta a narrativa de perseguição e mantém vivo o capital político do ex-presidente. O problema é que, ao mesmo tempo, tira poder de barganha de Bolsonaro, que deixará de vender a ilusão de que uma futura composição poderia lhe garantir perdão. Essa neutralização interessa ao Centrão e a todos que desejam tirar Bolsonaro do centro do jogo sucessório.
ANISTIA COMO MOEDA ELEITORAL
O que está em jogo, no fundo, não é a anistia em si, mas seu uso político. Enquanto o tema estiver vivo, a família Bolsonaro poderá condicionar apoio em 2026 à promessa de perdão. Ao rejeitar oficialmente a proposta, o Congresso retira da direita radical uma de suas principais cartas. O Centrão calcula que isso fortalece o campo pragmático da política, enfraquece os discursos inflamados e abre espaço para negociações mais seguras no futuro.
O BRASIL E SUA POLÍTICA DE ENCENAÇÃO
A anistia de 8 de janeiro já nasce morta, mas será colocada em cena como se fosse real. É a política brasileira em sua versão mais cínica: fingir, simular, encenar, e no fim, entregar o resultado que já estava decidido. Não haverá anistia, mas haverá teatro. E, nesse teatro, cada ator cumpre seu papel: o Centrão de articulador, Alcolumbre de maestro, Tarcísio de herói frustrado e Bolsonaro de vítima conveniente. O faz de conta segue sendo a verdadeira arte da política nacional.
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