A tão anunciada CPI da Publicidade, bandeira recém-levantada pela oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco, corre o risco de se transformar em um dos maiores equívocos estratégicos da atual legislatura. A ideia inicial era usar a investigação como um instrumento de pressão contra o Palácio do Campo das Princesas, mirando em supostas irregularidades nos contratos de comunicação do Governo do Estado. Porém, antes mesmo de sair do papel, a iniciativa perdeu fôlego com uma série de decisões judiciais que mudaram a correlação de forças dentro da Alepe.
Na manhã desta terça-feira, o juiz Fernando Jorge Ribeiro Raposo, da 16ª Vara Cível do Recife, determinou que o deputado Álvaro Porto, presidente da Casa, restabelecesse imediatamente a deputada Débora Almeida como líder do PSDB. A parlamentar havia sido afastada em uma disputa interna, mas volta ao posto por decisão judicial com o respaldo de multa de dez salários mínimos em caso de descumprimento. Esse movimento devolve à base governista o comando de uma das principais bancadas envolvidas na articulação da CPI.
No mesmo compasso, o Tribunal de Justiça de Pernambuco negou recurso do PRD e garantiu ao deputado Joãozinho Tenório a liderança da legenda, função que havia sido atribuída ao recém-chegado Júnior Matuto, ex-PSB. A mudança também impacta diretamente a formação da comissão, já que o PRD vinha sendo considerado peça estratégica na soma de forças oposicionistas.
Outro revés veio do MDB, onde a Justiça anulou a escolha do deputado Waldemar Borges como líder e manteve Jarbas Filho no comando da bancada. O episódio reforçou ainda mais o enfraquecimento da articulação oposicionista, que tentava ampliar espaços de comando para ter voz mais ativa na distribuição de cadeiras na CPI.
Com a sucessão dessas derrotas, a oposição se vê em posição delicada. Sem as novas lideranças, a tendência é que a comissão seja dominada por nomes ligados diretamente ao Palácio, o que muda completamente a lógica da investigação. Aliados da governadora Raquel Lyra já adiantaram que, caso a CPI seja instalada, o escopo não ficará restrito à atual gestão. A intenção é revisitar os últimos oito anos de administrações socialistas, período marcado pelas gestões de Paulo Câmara, abrindo a chamada “caixa-preta” da publicidade oficial.
O resultado prático pode ser o oposto do que a oposição pretendia. A comissão, pensada para desgastar o Executivo em pleno período eleitoral, pode virar palco para expor contratos milionários, prioridades questionáveis e eventuais irregularidades que marcaram as duas gestões socialistas, beneficiando politicamente a base governista. O movimento que começou como uma promessa de enfrentamento pode acabar desnudando os próprios adversários, num cenário que a política costuma chamar de tiro no pé.
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