O primeiro sangue escorreu no sábado, 6 de setembro. No residencial Viracopos, às duas e quarenta e cinco da tarde, os moradores mal acreditaram quando viram Marcelinho Airon, de 26 anos, cair em frente à sua casa. Os tiros atravessaram não só o corpo, mas também a tranquilidade de uma comunidade que nunca esqueceu o barulho da correria e do pânico.
No dia seguinte, 7 de setembro, enquanto o Brasil comemorava sua independência, Pesqueira perdia Carlos Daniel de Lima, de 25 anos. Quatro homens armados invadiram sua residência, no Pitanguinha, e executaram o jovem que ainda tentou fugir. O chão de casa virou cenário de crime, mostrando que o lar já não protege mais.
Na quinta-feira, 11 de setembro, o silêncio foi mais cruel que o estampido das armas. Quitério Júnior Filho, de 22 anos, foi encontrado em um terreno baldio, morto com um tiro na nuca. Uma execução rápida, sem testemunhas, sem alarde, mas carregada da frieza que transforma vidas em números e bairros em cemitérios.
Na sexta-feira, 12 de setembro, a violência bateu ponto outra vez. Por volta das oito da noite, no loteamento José Rocha, Uanderson Cauã Silva Oliveira, conhecido como Tuga, de 20 anos, tombou sob uma chuva de tiros. Outro rapaz que estava por perto ficou gravemente ferido. Tuga, que já tinha passagem por tráfico, viu sua vida ser interrompida sem direito a recomeço.
Cada um desses jovens tinha nome, história, sonhos interrompidos. Cada um deixou família e amigos mergulhados no choro e na revolta. E todos eles agora fazem parte de uma estatística que cresce no mesmo ritmo em que a esperança diminui.
Enquanto corpos são levados para o IML de Caruaru, a cidade vai se enchendo de perguntas sem resposta. O medo anda solto pelas ruas, e mães já choram por antecipação, imaginando que a próxima bala pode atingir seus filhos.
E não é só o sangue das vítimas que denuncia o caos. Nos últimos dias, a polícia encontrou um adolescente escondido com armas, drogas, rádios de comunicação e até pés de maconha em casa. Em outra ação, desarticulou uma quadrilha de jovens da região envolvida no roubo de um caminhão carregado de queijo. O crime organizado tem recrutado cada vez mais cedo, e a juventude, em vez de estudar e sonhar, termina no tráfico, no caixão ou atrás das grades.
Pesqueira, que sempre foi chamada de Princesa do Agreste, agora vive como refém. O povo caminha cabisbaixo, os comerciantes fecham cedo, e a noite caiu sobre a cidade antes do pôr do sol. O que se vê é uma juventude enterrada, um povo desesperado e uma cidade que acorda todos os dias com a mesma pergunta atravessada no peito: até quando? Segue a rotina!
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