Por Edney Souto
A recente apreensão de uma grande plantação de maconha no território indígena Xukuru, em Pesqueira, reacendeu um debate necessário e delicado: até que ponto a identidade ou a cultura de um povo pode ser utilizada para justificar ou relativizar crimes? O fato de o território ser indígena não pode — e não deve — servir como escudo para práticas ilegais. A lei é universal e deve ser aplicada com o mesmo rigor a todos, sem exceções.O povo Xukuru tem uma história de luta e resistência legítima, marcada por décadas de perseguição e conquistas pela demarcação de suas terras. Essa trajetória merece respeito e reconhecimento. No entanto, quando se trata de delitos como o cultivo e tráfico de drogas, é fundamental separar a identidade cultural da responsabilidade criminal. O erro aconteceu, e é preciso que os responsáveis arquem com as consequências legais, independentemente de quem sejam ou de onde estejam.
O episódio em Pesqueira mostrou que o Estado precisa agir com equilíbrio: combater o crime, mas também garantir que não haja preconceito ou generalização contra toda uma comunidade indígena. A grande maioria dos Xukurus é composta por cidadãos trabalhadores, comprometidos com suas tradições e com o desenvolvimento local. O crime cometido em parte do território não representa o coletivo — mas tampouco pode ser silenciado em nome da “defesa cultural”.
É perigoso quando o discurso político tenta transformar a denúncia de um crime em ataque à cultura. O combate à criminalidade não fere a identidade de um povo; pelo contrário, preserva a dignidade daqueles que lutam por justiça e honestidade dentro de suas comunidades. O que está em jogo aqui é a integridade de um território que deve ser protegido — não usado por criminosos, sejam eles indígenas ou não.
As autoridades precisam investigar, punir e, acima de tudo, dialogar. É inaceitável que áreas protegidas por lei sejam usadas para fins ilícitos. A impunidade não fortalece as causas indígenas — apenas as enfraquece diante da opinião pública. A justiça, quando aplicada com transparência e respeito, é o que garante o verdadeiro reconhecimento e a autonomia dos povos originários.
Ser índio não é, e nunca foi, sinônimo de ser vítima permanente. É ser guardião de uma história rica, de uma cultura viva e de direitos inegociáveis. Mas esses direitos caminham lado a lado com deveres e responsabilidades. E quando há crime, o caminho da lei é o único possível.
Pernambuco precisa olhar para este caso sem preconceito, mas também sem complacência. A verdade deve prevalecer — e com ela, a certeza de que nenhum cidadão, instituição ou povo está acima da lei.
Edney Souto
Jornalista e editor do Blog do Edney
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