quarta-feira, 22 de outubro de 2025

AUDIÊNCIA NA CÂMARA EXPÕE ABANDONO DA CAUSA ANIMAL E ALERTA PARA O SOFRIMENTO MENTAL DOS PROTETORES NO RECIFE

A Câmara Municipal do Recife foi cenário, nesta quarta-feira (22), de um debate intenso sobre o abandono da causa animal e o sofrimento psicológico de quem luta por ela diariamente. A audiência pública, proposta pelos vereadores Gilson Machado Filho (PL) e Eduardo Moura (NOVO), reuniu protetores independentes, representantes de ONGs, especialistas e autoridades para discutir o tema “Proteção Animal e Saúde Mental dos Protetores: desafios e políticas públicas”. A reunião escancarou uma realidade preocupante: a ausência de políticas estruturadas e o peso emocional suportado por quem atua, quase sempre, sem qualquer apoio.

Na abertura, Gilson Machado Filho destacou que o Recife vive um apagão de políticas públicas para os animais. “A causa animal está abandonada. O Hospital Veterinário do Recife não funciona 24 horas, o Conselho de Bem-Estar Animal está parado e faltam ações permanentes de castração. Essa audiência é o primeiro passo de muitas outras que faremos para cobrar respeito e soluções”, afirmou. O vereador também lembrou que o abandono de animais é um problema que atinge não só a cidade, mas toda a saúde pública.

Eduardo Moura reforçou a importância de reconhecer o esforço dos protetores, que atuam de forma voluntária e enfrentam dificuldades extremas. “Eles fazem o trabalho que deveria ser responsabilidade do poder público. A falta de apoio financeiro e psicológico está levando muitos à exaustão. Isso também é uma questão de saúde pública”, declarou.

Os relatos emocionaram os presentes. A protetora Ieda Lins contou que vive sobrecarregada e desamparada. “Nos sentimos impotentes. O descaso é grande, não há para onde correr. Queremos apenas ajuda para continuar cuidando com dignidade dos animais que o poder público esqueceu”, desabafou. O delegado do DEPOMA, Ademar Cândido, confirmou a precariedade do sistema: “Somos apenas quatro policiais para atender toda a Região Metropolitana. Recebemos denúncias todos os dias, mas não temos para onde levar os animais. Falta estrutura, falta tudo.”

A advogada Laura Ferraz, fundadora da ONG Anjos do Poço, cobrou da Prefeitura uma política concreta de apoio. “Em outras capitais, os protetores recebem doações mensais de ração e apoio técnico. Aqui, a gente não recebe um centavo. Se não fosse nosso trabalho, o caos seria muito maior. Fazemos por amor, mas o amor não paga as contas nem salva todos os animais”, afirmou.

Durante o encontro, foram apresentados três projetos de lei elaborados em conjunto com protetores e veterinários, que os vereadores se comprometeram a protocolar ainda em outubro. As propostas incluem a criação de um programa de auxílio aos protetores, a retomada do Conselho Municipal de Bem-Estar Animal e a ampliação dos serviços do Hospital Veterinário. “Esses projetos vão sair do papel. Vamos lutar para que o Recife trate a causa animal com o respeito que merece”, garantiu Gilson Machado Filho.

Ao final da audiência, ficou evidente que o debate não é apenas sobre animais abandonados, mas sobre pessoas que estão adoecendo mentalmente diante da omissão do poder público. “Os protetores estão exaustos, física e emocionalmente. Eles salvam vidas todos os dias e precisam ser salvos também”, concluiu Eduardo Moura, sob aplausos de uma plateia que saiu com esperança, mas também com a certeza de que a luta pela causa animal no Recife ainda está longe de terminar.

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