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O massacre da cachaça com metanol na Bahia e o drinque 'bombeirinho' contaminado em SP
Relembramos dois episódios em que pessoas morreram e dezenas foram hospitalizadas após ingerir bebida adulterada com substância tóxica nos anos 1990
O proprietário de uma funerária em Serrinha, a 173km de Salvador, na Bahia, foi quem deu o alarde. Ele percebeu que tinha algo de estranho acontecendo quando, em apenas uma semana, em novembro de 1997, vendeu 11 caixões para famílias de pessoas que haviam morrido depois de ingerir a cachaça da marca Pé No Pote, de fabricação caseira. A Vigilância Sanitária foi chamada e, dias mais tarde, exames em laboratório com garrafas daquela marca comprovaram a presença de metanol na bebida.
Assim como as vítimas recentes no Estado de São Paulo, onde já houve cinco mortes em 22 casos suspeitos de contaminação com metanol, os moradores de Serrinha, em 1997, começaram a passar mal pouco depois de consumir a bebida adulterada. Eles sentiram ânsia de vômito seguida de forte dor no estômago, além de cegueira. Na investigação da Vigilância Sanitária, mais de 1,3 mil litros da cachaça Pé No Pote foram recolhidos em bares e outros 700 litros no depósito da fábrica clandestina.
— Houve até o caso de um senhor que morreu num dia e no dia seguinte morreu a mulher. Os dois haviam bebido a cachaça — disse o então chefe da Vigilância Sanitária na Bahia, Antônio Siqueira.
Composto químico altamente tóxico, o metanol é usado na fabricação de solventes, plásticos, tintas e outros produtos químicos, além de funcionar como combustível. Uma busca no site do Acervo O GLOBO mostra reportagens sobre diferentes episódios no Brasil em que a substância causou mortes quando foi misturada a bebidas alcóolicas, assim como vem acontecendo no Estado de São Paulo, onde os casos recentes já motivaram a abertura de inquéritos nas esferas estadual e federal.
Drinque deixou 23 intoxicados em Diadema
Entre dezembro de 1992 e janeiro de 1993, moradores de diferentes municípios da Grande São Paulo ficaram consternados quando cinco pessoas morreram após ingerir bebida com metanol.
Na noite de 26 de dezembro de 1992, um sábado, 23 jovens que estavam na casa nortuna Roof 2, em Diadema, foram hospitalizados depois de tomar um drinque conhecido como "bombeirinho", feito com vodca, groselha, suco de limão e açúcar. Três morreram. Todas as vítimas tiveram ânsia de vômito, forte dor no estômago e perderam a visão. A estudante Tânia Cristina Cardoso, de 21 anos, apresentou os sintomas no domingo, tomou um analgésico e dormiu. No dia seguinte, foi encontrada morta.
Em Santo André, a universitária Andreia Mara Vicente, de 21 anos, perdeu a visão depois de beber um drinque então conhecido como "vodca coquinho" no bar Meio Natural. Ela chegou a ficar em coma. Já o pintor de paredes Joaquim Evangelista morreu menos de 24 horas depois de começar a passar mal com a bebida contaminada. Ele frequentava bares da Zona Leste de São Paulo e de São Bernardo do Campo, mas a família não sabia informar em qual estabelecimento ele consumira o veneno.
As autoridades na época interditaram bares no ABC Paulista e saíram em busca dos suspeitos de vender a bebida adulterada. No bar Meio Natural, foram apreendidos 30 litros de vodca que haviam sido contaminados com 17% de metanol, segundo exames. "Compramos a bebida confiando nos argumentos do vendedor", alegou Luciano Parizzotti, dono do bar. Também foram apreendidos mais de mil litros de vodca de composição química duvidosa em um depósito em São Bernardo do Campo.
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