quarta-feira, 1 de outubro de 2025

RAQUEL LYRA ELEVA O TOM CONTRA AS BETS E ENVIA RECADO INDIRETO A JOÃO CAMPOS DURANTE ENCONTRO NACIONAL DE LÍDERES

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), usou a tribuna de um dos mais prestigiados fóruns de debate sobre gestão pública do país para lançar críticas contundentes às chamadas bets (apostas online). O episódio aconteceu nesta segunda-feira (30), em São Paulo, durante a 18ª edição do Encontro de Líderes, promovido pela organização Comunitas, que reuniu governadores, prefeitos, especialistas e representantes do setor privado.

Diante de uma plateia composta por autoridades e empresários, a governadora afirmou que a regulamentação das plataformas de apostas, quando tratada apenas como mecanismo de arrecadação, representa “um grande retrocesso no Brasil”. O comentário foi interpretado como uma indireta ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), também presente no evento.

Em abril deste ano, Campos sancionou a lei municipal que reduziu de 5% para 2% a alíquota do ISS cobrado das bets, o que transformou a capital pernambucana em uma das cidades mais competitivas do país para sediar empresas do setor. A medida ampliou a capacidade de arrecadação e atraiu investimentos, mas também gerou polêmica pelo incentivo a uma atividade constantemente associada a riscos sociais.

As falas de Raquel ocorreram em um painel sobre segurança pública, área em que o seu governo tenta consolidar a marca do programa Juntos pela Segurança. A gestora alertou para o risco de que as apostas sirvam como “porta de entrada” para práticas ilícitas, como a lavagem de dinheiro, quando não submetidas a um controle rigoroso.

“Não estou dizendo que todas são iguais, mas a aposta facilita a lavagem de dinheiro. Quando se vê isso apenas como um meio de arrecadação, muitas vezes se está facilitando a vida de quem lava dinheiro. A gente não pode permitir que a legislação cristalize o crime organizado”, declarou Raquel, em tom firme.

A postura chamou a atenção justamente por ter sido feita com João Campos na plateia. O prefeito do Recife não reagiu publicamente à crítica, mas sua equipe reforçou, em outros momentos, que a decisão de reduzir a alíquota buscou modernizar a legislação fiscal e ampliar a competitividade da capital.

Além disso, o setor de apostas se consolidou como um dos maiores patrocinadores de eventos culturais da cidade, financiando parte da estrutura de festas como o Carnaval do Recife e o São João, o que elevou a polêmica para o campo político: até que ponto a arrecadação justifica os impactos sociais?

Raquel Lyra, que vem sendo apontada como nome nacionalmente influente dentro do PSD, tem buscado se diferenciar do modelo de gestão de João Campos. O embate de visões reforça a rivalidade política de olho em 2026, quando os dois devem se enfrentar na disputa pelo Governo de Pernambuco.

Campos, por sua vez, participou do Encontro de Líderes em um painel separado, voltado ao debate sobre democracia e eficiência do Estado. Sua presença no evento foi marcada por uma agenda mais propositiva, voltada ao fortalecimento institucional, mas ofuscada pelo recado indireto da governadora.

A cena em São Paulo escancarou, mais uma vez, que a disputa pelo futuro de Pernambuco já está em curso. Se de um lado Raquel aposta na pauta da segurança pública como bandeira de gestão, do outro João Campos usa a vitrine da capital e os investimentos privados para consolidar sua imagem de gestor moderno.

O episódio com as bets vai além do embate retórico: simboliza duas formas distintas de governar e evidencia que o duelo político entre PSD e PSB deverá marcar o cenário pernambucano até a próxima eleição.

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