segunda-feira, 17 de novembro de 2025

CARROCEIROS VOLTAM ÀS RUAS DO RECIFE E ACUSAM FALTA DE DIÁLOGO EM MEIO À PROIBIÇÃO DE TRAÇÃO ANIMAL

O Recife viveu mais um dia de tensão nesta segunda-feira (17), quando carroceiros voltaram a ocupar as ruas em protesto contra a lei que proibirá veículos de tração animal na cidade a partir de 31 de janeiro de 2026. A manifestação, que partiu do bairro do Bongi rumo à Câmara de Vereadores, marca o quarto ato do grupo neste ano e reforça o crescente clima de insatisfação entre trabalhadores que afirmam estar sendo deixados à própria sorte em meio à transição imposta pelo poder público.

As ruas que receberam os manifestantes já os viram em abril, junho e agosto, meses em que a cidade chegou a ter pontos completamente bloqueados pela categoria. O movimento, cada vez mais organizado e numeroso, denuncia o que os carroceiros definem como uma política pública “sem diálogo” e distante da realidade de quem sobrevive diariamente da coleta de recicláveis e de pequenas entregas feitas com cavalos e carroças. A insatisfação principal está no valor da indenização oferecida: R$ 1,2 mil por cavalo e R$ 1,2 mil por carroça. Para trabalhadores que sustentam famílias inteiras com o serviço, o montante é visto como insuficiente e desrespeitoso. Eklesiartes da Silva, representante da categoria, sintetiza o sentimento: “Estamos aqui porque a prefeitura não conversa com a gente. Não é só o carroceiro que depende do cavalo. É toda uma rede de pessoas que vive dessa atividade.”

O protesto também surge no mesmo dia em que a Prefeitura inicia um novo censo obrigatório dos condutores de tração animal, etapa necessária para acessar os benefícios do Programa Gradual de Retirada de Veículos de Tração Animal. O cadastramento seguirá até 10 de dezembro e promete mapear tutores, cavalos e carroças. A desconfiança, porém, domina o grupo. Muitos trabalhadores afirmam não ter garantias de que receberão alternativas reais de renda após entregarem seus animais, enquanto outros dizem que o processo é lento e não contempla todos. Na primeira fase do programa, apenas seis dos 32 carroceiros cadastrados receberam a indenização. Foram entregues seis cavalos e cinco carroças — números que, segundo os manifestantes, mostram que a política ainda está longe de alcançar a categoria de forma ampla e justa. Além da indenização, os trabalhadores receberam encaminhamento para vagas na limpeza urbana, acesso a microcrédito e bicicletas elétricas. Mas, mesmo estes benefícios são alvo de críticas. Alguns reclamam que as bicicletas, apontadas pela gestão como alternativa de trabalho, exigem pagamento de 60 parcelas de R$ 100 — valor considerado impagável para quem depende do ganho diário.

A Prefeitura, por sua vez, afirma que vem conduzindo um processo de transição gradual, assegurando indenizações, vagas de trabalho, acesso a crédito e cursos de qualificação profissional. Em nota, reforçou que mais de 60 formações estão disponíveis, incluindo cursos de eletricista, mecânico de ar-condicionado e cabeleireiro, além de novos benefícios que serão oferecidos aos cadastrados na próxima etapa.

Enquanto a gestão municipal e os carroceiros mantêm narrativas distintas sobre o andamento da transição, o tempo avança e a proibição definitiva se aproxima. Para os trabalhadores, o futuro ainda é incerto e a sensação é de abandono. O protesto desta segunda reforça que a discussão sobre a retirada dos veículos de tração animal não trata apenas da proteção dos cavalos, mas da sobrevivência de famílias inteiras. Até que haja um diálogo mais amplo e efetivo, a tendência é que as manifestações continuem a ocupar as ruas do Recife, ecoando o pedido por um caminho que não deixe ninguém para trás.

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