sábado, 1 de novembro de 2025

COLUNA POLÍTICA | O TERROR ELEITOREIRO NO RIO | NA LUPA 🔎 | POR EDNEY SOUTO

MASSACRE NO RIO DE JANEIRO: O DIA EM QUE A POLÍCIA MATOU 130 PESSOAS
UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA SOB COMANDO DE CLÁUDIO CASTRO

O Rio de Janeiro viveu, nesta terça-feira (28), a operação policial mais letal de sua história. Sob o comando do governador Cláudio Castro (PL), a chamada “megaoperação” deixou mais de 130 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Entre as vítimas, quatro eram policiais, mas a grande maioria eram moradores comuns ou suspeitos cuja culpa ainda não foi confirmada.

A operação foi planejada durante 60 dias, segundo a Secretaria de Polícia Militar, e utilizou a chamada tática do “muro do Bope”, na qual criminosos eram empurrados para áreas de mata como rota de fuga. O objetivo, segundo o governo, era minimizar mortes de inocentes, embora reconhecendo que a alta letalidade era previsível. Mesmo assim, a operação transformou bairros inteiros em zonas de guerra, com escolas e postos de saúde fechados, transporte público paralisado e milhares de pessoas na linha de tiro.

O governador Cláudio Castro comemorou o resultado, descrevendo a operação como um “sucesso” em encontro com outros governadores de direita. A declaração chocou a opinião pública, ao mesmo tempo em que o presidente Lula, recém-retornado de viagem à Ásia, se disse estarrecido com o número de mortos.

A REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL
O massacre não ficou restrito ao Rio de Janeiro. A operação colocou o Brasil sob os holofotes internacionais, levantando questões sobre a eficácia do Poder Judiciário, a aplicação da lei e a normalização da violência letal contra suspeitos em favelas. Mais de 130 brasileiros perderam a vida, e o mundo questiona se isso poderia ocorrer em bairros nobres ou se a vida de um cidadão em comunidade pobre vale menos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a operação, afirmando que ela foi ineficaz contra o crime organizado, atingindo apenas “alvos fáceis” e não os grandes operadores do contrabando de combustíveis que financiam facções criminosas. A solução, segundo Haddad, passa por atacar o “andar de cima” do crime, onde estão os braços político e econômico do Comando Vermelho.

O PAPEL DO SUPREMO E DO GOVERNO FEDERAL
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que Cláudio Castro preste informações detalhadas sobre a operação em audiência marcada para 3 de novembro. A ação integra a ADPF 635, conhecida como “ADPF das Favelas”, que monitora a letalidade policial no estado do Rio de Janeiro.

O governo federal, através do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, enviou representantes para se reunir com Castro e discutir medidas emergenciais. Um Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado foi criado para coordenar ações conjuntas entre forças estaduais e federais, mas ainda não há consenso sobre a necessidade de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

A HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA REPETITIVA
Esta megaoperação é apenas mais um capítulo de um problema histórico. As três maiores chacinas da polícia no estado ocorreram sob a gestão de Cláudio Castro: 28 mortos no Jacarezinho (2021), 24 na Vila Cruzeiro (2022) e agora mais de 130. As consequências dessas mortes são questionáveis: o crime organizado não foi desarticulado e a violência segue, deslocando-se para outras regiões.

A população sofre com a falta de políticas de segurança efetivas, corrupção permanente e falta de integração entre as forças policiais. Moradores permanecem vulneráveis, escolas e serviços públicos paralisados, e crianças e trabalhadores expostos à violência.

CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS E FUTURAS
Além do número trágico de mortos, a operação trouxe repercussões diretas na logística do crime: dez líderes do CV foram transferidos de Bangu 3 para Bangu 1 para evitar retaliações, enquanto 113 suspeitos foram presos, incluindo operadores financeiros da facção. A Polícia Civil também investiga moradores que retiraram corpos da mata, acusando-os de fraude processual.

No entanto, especialistas alertam que a estratégia de confrontos letais não reduz o poder das facções nem interrompe os fluxos financeiros que sustentam o crime. A violência simplesmente se desloca e se renova. A única alternativa duradoura envolve ataque aos recursos financeiros das organizações criminosas, combate à corrupção institucional e fortalecimento de corregedorias independentes.

A FALTA DE POLÍTICA DE SEGURANÇA E A CORRUPÇÃO
O Rio de Janeiro convive há décadas com uma combinação letal de governança fraca, corrupção policial e ausência de políticas públicas de segurança estruturadas. As operações policiais letais funcionam como medidas emergenciais e midiáticas, mas não atacam o problema de base: a fragilidade institucional, a falta de inteligência integrada e a vulnerabilidade financeira das corporações criminosas.

Sem planejamento estratégico de longo prazo, o Estado cria cenários de guerra urbana que penalizam inocentes, deslocam o crime e perpetuam um ciclo de violência que se retroalimenta. O resultado é um território em que o cidadão comum paga com sua vida ou sua rotina diária, enquanto o crime organizado mantém seus fluxos de lucro intactos.

O IMPACTO SOCIAL E HUMANO
As consequências da megaoperação não se limitam aos números de mortos ou presos. Moradores relataram dias de terror, com famílias inteiras escondidas em suas casas, crianças sem aula, transporte público suspenso e o medo constante de balas perdidas. A violência se torna parte da rotina, traumatizando crianças e adultos, destruindo a sensação de segurança e alimentando um ciclo psicológico de medo e desconfiança.

Casos isolados — como uma mulher baleada em uma academia ou um jovem em situação de rua atingido por disparos — evidenciam que a população civil sofre de forma desproporcional. Para muitos, a linha de tiro se tornou parte do cotidiano.

O CÍRCULO VICIOSO DO CRIME ORGANIZADO

O Comando Vermelho e o PCC são organizações que crescem há décadas sem que políticas efetivas de combate sejam implementadas. Operações policiais letais atingem apenas o “andar de baixo”, enquanto os operadores financeiros e políticos permanecem fora do alcance, mantendo a engrenagem do crime funcionando.

Combater o crime exige uma abordagem integrada: atacar fluxos financeiros, fortalecer corregedorias independentes, combater a corrupção dentro do Estado e investir em inteligência. Sem isso, o resultado será sempre o mesmo: mortes, destruição, deslocamento da violência e sensação de impotência da população.

AS PIORES OPERAÇÕES SÃO AS QUE VIRÃO

O massacre da terça-feira é resultado de décadas de negligência na política de segurança pública no Rio de Janeiro e no Brasil. A repetição de operações letais, a ausência de planejamento estratégico real e a concentração em ações midiáticas transformam tragédias em espetáculo, sem solução concreta.

Enquanto não houver um esforço coordenado entre governo federal, estadual, judiciário e sociedade, a lógica da violência continuará. A pior operação policial será sempre a próxima, e a população seguirá pagando o preço. O desafio é estrutural, financeiro e político, e só uma abordagem integrada pode quebrar o ciclo de barbárie. Vem mais por ai! O problema são os homens e mulheres de bem encurralados no meio disso tudo.


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