Governadora defende mobilização ampla da sociedade e promete levar carta de intenções ao Governo Federal em busca de recursos para a obra
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, propôs nesta terça-feira (18) a criação de um fórum permanente de mobilização em defesa da implantação do trecho pernambucano da Ferrovia Transnordestina. O anúncio foi feito durante a abertura da etapa final do Conexões Transnordestina, realizada no auditório do Porto de Suape, reunindo empresários, autoridades e especialistas em logística. Para a gestora, apenas a união de toda a sociedade poderá garantir os recursos necessários para a execução da obra, considerada estratégica para o desenvolvimento econômico do estado e do Nordeste.
Durante o evento, foi apresentada uma carta de intenções elaborada a partir de seis seminários realizados entre julho e novembro, em municípios-chave do interior pernambucano. O documento sintetiza as principais propostas e demandas do setor produtivo, resultantes da escuta de representantes locais, gestores públicos e empresários. Recebendo o material das mãos de Daniel Torres, presidente da Agência de Desenvolvimento de Araripina, que fez a leitura do documento, Raquel Lyra se comprometeu a entregá-lo pessoalmente ao ministro dos Transportes, Renan Filho, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília.
A governadora ressaltou que, embora o trecho pernambucano da ferrovia já tenha sua retomada confirmada, o desafio imediato é assegurar os investimentos. Segundo ela, o Orçamento da União para 2026 prevê apenas R$ 50 milhões para a obra, enquanto seriam necessários cerca de R$ 4 bilhões para sua conclusão. “Uma obra dessa magnitude precisa de dinheiro e de vontade política. É federal, mas é essencial para Pernambuco e para o Nordeste. Nossa competitividade depende de infraestrutura portuária, aeroportuária, ferroviária e rodoviária. O trem é um diferencial logístico e estratégico para o crescimento”, destacou Raquel Lyra, defendendo a articulação junto ao Congresso Nacional para viabilizar emendas que reforcem o orçamento.
Promovido pelo portal Movimento Econômico, com patrocínio da Sudene e do Porto de Suape, o Conexões Transnordestina consolidou uma agenda inédita de propostas do setor produtivo pernambucano. A CEO do portal e mediadora do debate, Patrícia Raposo, enfatizou a importância da participação social. “Nós conseguimos ouvir a população local, gestores e setores produtivos de todas as cidades que o seminário percorreu em Pernambuco e entender a realidade local. Essa obra tem o poder de transformar a economia do Estado, resgatar a competitividade do polo gesseiro do Araripe, a capacidade do setor avícola de exportar e de uma série de melhorias dos segmentos produtivos. Chegamos a Suape, que é igualmente importante, e com o desafio de debater e trazer até aqui essa ferrovia como ponto final. Agradeço a todos que participaram dos seminários, a Sudene por nos permitir a realização desse evento, e ao Porto de Suape por acolher e abraçar esse tema tão importante para a logística desse complexo".
O superintendente da Sudene, Francisco Alexandre, elogiou a iniciativa e reforçou o caráter estratégico do debate. “Esse movimento trouxe à população pernambucana a dimensão real de uma obra estruturante, capaz de induzir crescimento e reduzir desigualdades regionais. O Conexões Transnordestina cumpriu seu propósito de mobilizar e qualificar o diálogo público sobre o papel da infraestrutura no desenvolvimento regional”, avaliou o dirigente, destacando que as contribuições recolhidas durante o processo serão levadas às discussões com o Ministério dos Transportes e outros órgãos federais.
Para o presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro, a ferrovia é peça-chave na estrutura logística de Pernambuco. “Nosso estado é extenso e economicamente diverso. A Transnordestina dará fluidez aos fluxos de exportação e importação, tornando o Porto de Suape ainda mais competitivo. Encerrar esse ciclo de debates aqui simboliza nosso compromisso com a integração logística e o futuro econômico do Nordeste”, pontuou.
Representando a Assembleia Legislativa de Pernambuco, o deputado Joãozinho Tenório ressaltou o papel das obras estruturantes na geração de emprego e renda. “Pernambuco tem competência técnica, capacidade de mobilização e vontade política para retomar projetos que façam a economia girar e garantam oportunidades para nossa população”, declarou.
No mesmo sentido, o empresário Paulo Pérez, diretor da Shineray Motors do Brasil, afirmou que a ligação ferroviária é essencial para dar eficiência ao complexo portuário. "Não existe um porto da categoria de Suape sem uma ferrovia acoplada. A nossa perspectiva é que complementar esse ciclo de logística, e que a gente possa ter operações, no mais curto espaço de tempo possível", destacou o empresário.
O encontro contou ainda com a presença de representantes do governo federal e estadual, como o diretor de empreendimentos da Infra S.A., André Luiz Ludolfo, o presidente de Suape, Armando Monteiro Bisneto, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, o especialista em transporte e professor Maurício Pina e o consultor em logística da UPE, Guilherme Magalhães.
O auditório do Porto de Suape ficou lotado com a presença de lideranças políticas, empresários e técnicos do setor, reforçando o compromisso coletivo em torno da pauta. Ao encerrar o evento, Raquel Lyra reforçou o convite à mobilização permanente da sociedade civil, do setor produtivo e da imprensa. “A Transnordestina é um sonho que precisa sair do papel. É hora de unirmos forças por Pernambuco, pelo Nordeste e pelo Brasil”, concluiu a governadora, sob aplausos do público.
Histórico
A Transnordestina começou a ser construída em 2006 e originalmente ligaria Eliseu Martins (PI) a dois portos: Pecém (CE) e Suape (PE). Em 2022, a concessionária TLSA devolveu o trecho Salgueiro–Suape, alegando inviabilidade econômica. O segmento Eliseu Martins–Salgueiro–Pecém segue em execução, com previsão de conclusão em 2027, estando parte do trecho cearense prestes a entrar em testes. Já o trecho pernambucano deve ser finalizado em 2029, com operação prevista via concessão ou PPP.
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