sábado, 27 de dezembro de 2025

DÍVIDAS BILIONÁRIAS, CRISE POLÍTICA E PRESSÃO POPULAR: O PRIMEIRO ANO DE SUFOCO DA GESTÃO MIRELLA EM OLINDA

Eleita aos 30 anos, em uma das disputas eleitorais mais acirradas da história de Olinda, Mirella Almeida (PSD) assumiu a Prefeitura cercada de expectativas, simbolizando renovação política e continuidade de um projeto iniciado pelo então prefeito Professor Lupércio (PSD). No entanto, o que se desenhou ao longo do seu primeiro ano de governo foi um cenário marcado por severas restrições financeiras, instabilidade administrativa e desgaste político crescente.

Logo nos primeiros dias de gestão, a realidade se impôs de forma dura. Um rombo milionário deixado pela administração anterior comprometeu completamente a capacidade de investimento do município. Dívidas acumuladas com fornecedores, prestadores de serviços e contratos essenciais estrangularam o caixa da Prefeitura e forçaram Mirella a decretar, ainda no primeiro mês, um contingenciamento de 35% dos gastos públicos. A medida atingiu praticamente todas as áreas da administração e passou a definir o tom de um governo operando no limite.

Sem margem financeira, a Prefeitura passou a enfrentar dificuldades para manter serviços básicos. A coleta de lixo sofreu interrupções, a malha viária acumulou buracos e a iluminação pública apresentou falhas recorrentes. O cotidiano da população passou a refletir diretamente o aperto fiscal vivido no Palácio dos Governadores, alimentando insatisfação e cobranças cada vez mais intensas.

A crise também se manifestou no campo dos pagamentos. Ao longo dos primeiros 365 dias, a gestão acumulou atrasos no repasse de cachês de artistas do Carnaval, além de pendências com estagiários, porteiros de escolas e outros prestadores de serviços. Situações que ganharam repercussão pública e desgastaram a imagem de uma prefeita que, mesmo jovem, passou a ser associada a dificuldades administrativas.

No campo político, o ambiente não foi menos turbulento. A incapacidade de atender demandas de vereadores — muitas delas ligadas a indicações e pequenos pleitos locais — provocou um rompimento silencioso com parte da Câmara Municipal. Como reação, 15 parlamentares se organizaram em um chamado “bloco independente”, deixando claro que não haveria alinhamento automático com o Executivo. A relação com a Casa Bernardo Vieira de Melo, que já não era confortável, passou a ser marcada por desconfiança e distanciamento.

Paralelamente, Mirella viu se esgarçar sua própria base política. Aliados históricos, figuras que tiveram papel decisivo em sua eleição e militantes que “deram o sangue” na campanha acabaram se afastando, seja por falta de espaço, de reconhecimento ou de diálogo. Alguns deixaram definitivamente o projeto; outros permanecem na órbita da gestão, mas carregando insatisfação latente.

O horizonte eleitoral adiciona ainda mais pressão ao cenário. Em 2026, a prefeita terá a missão de ajudar a viabilizar a candidatura do ex-prefeito Professor Lupércio à Assembleia Legislativa de Pernambuco. Uma eventual derrota de Lupércio não seria apenas um revés pessoal para o ex-gestor, mas um golpe profundo no projeto político que sustenta Mirella e que mira sua reeleição em 2028. O risco de um efeito dominó preocupa aliados e acende alertas dentro do próprio PSD.

Apesar do quadro adverso, interlocutores próximos reconhecem que o cenário, embora duro, não é irreversível. A avaliação interna é de que a prefeita precisa, com urgência, reorganizar a equipe, corrigir escolhas e abrir espaço para quadros mais qualificados que hoje estão fora ou subutilizados. Há críticas diretas à presença de pessoas consideradas despreparadas em funções estratégicas, enquanto nomes com capacidade técnica e política seguem à margem da gestão.

Domar a montanha de problemas herdados, equilibrar as contas, reconstruir pontes políticas e reconquistar a confiança da população serão os grandes testes de Mirella Almeida em 2026. O tempo é curto, a pressão é alta e o capital político, embora ainda existente, já não é mais o mesmo do dia da posse. O próximo ano será decisivo para definir se a prefeita conseguirá transformar o sufoco inicial em virada ou se ficará refém das dívidas e dos erros acumulados no início do seu governo.

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