Miguel negou qualquer clima de enfrentamento direto com Eduardo da Fonte e rejeitou a narrativa de ataques pessoais. Segundo ele, o que existe é um movimento natural de cada partido defender seu próprio projeto. “Eu discordo desse tensionamento. Pelo menos na minha fala, não houve nenhum tipo de ataque ao presidente Eduardo da Fonte. O que existe é cada grupo defendendo o seu próprio projeto, o que é absolutamente natural no jogo político”, afirmou, em tom conciliador.
Ao tratar da disputa pelo Senado, Miguel reconheceu que tanto o PP quanto o União Brasil já colocaram seus nomes no tabuleiro e que isso faz parte da dinâmica política. Para ele, o fato de Eduardo da Fonte e ele próprio serem pré-candidatos não representa crise, mas um estágio preliminar do debate eleitoral. No entanto, ao avançar na explicação sobre o funcionamento da federação, o discurso de harmonia deu lugar a uma leitura fria do estatuto, que expõe um desequilíbrio interno.
Miguel deixou claro que a Federação União Progressista não decide por maioria simples. Pelo contrário: as decisões sobre candidaturas majoritárias e proporcionais precisam ser unânimes. “O estatuto da Federação é muito claro. Não adianta ser 5 a 2, 6 a 1, o resultado que for. Tem que ser por unanimidade. Nem o PP consegue nada sozinho, nem o União Brasil consegue nada sozinho”, explicou. Na prática, porém, ele reconhece que essa exigência de unanimidade pode levar à paralisia da executiva estadual, empurrando a definição para Brasília.
É nesse ponto que surge a contradição central da fala de Miguel Coelho. Ao mesmo tempo em que afirma não haver hegemonia de Eduardo da Fonte, ele admite que, se não houver consenso, a decisão sobe para a direção nacional da federação. E, nesse cenário, Miguel deixa implícito que aposta no peso político de Antônio Rueda, presidente nacional do União Brasil, como contraponto à força de Eduardo no comando estadual da federação. Ou seja, Eduardo não teria poder absoluto sobre a federação, mas Miguel também admite que, localmente, seu grupo é minoritário e depende de uma instância superior para tentar reequilibrar o jogo.
Apesar disso, Miguel insistiu que não acredita em racha. Disse manter diálogo constante com Eduardo da Fonte e afirmou que apostar em conflito interno seria prejudicial à federação. “Quem aposta em racha não pensa no bem da federação, nem no bem de Dudu, nem no nosso. Não acredito em briga. Esse tensionamento é natural do processo, todo mundo quer viabilizar seu projeto”, declarou.
O pré-candidato também reconheceu, sem rodeios, que hoje existem projetos políticos distintos convivendo sob o mesmo guarda-chuva. Eduardo da Fonte está alinhado à governadora Raquel Lyra, enquanto Miguel Coelho se posiciona ao lado do prefeito do Recife, João Campos. Ainda assim, Miguel disse trabalhar para, no futuro, tentar atrair Eduardo para o campo político liderado pelo União Brasil desde 2023, o que reforça a percepção de que a disputa é menos pessoal e mais estratégica.
Ao falar sobre seus planos, Miguel buscou deslocar o foco das disputas internas para uma agenda propositiva. Defendeu investimentos federais em novos hospitais, mutirões de cirurgias, acesso à água, fortalecimento da segurança pública e modernização do metrô da Região Metropolitana do Recife. Segundo ele, a prioridade é dialogar com a população e mostrar o papel de um senador atuante para destravar projetos estruturantes para Pernambuco.
Por fim, Miguel comentou o cenário para o Governo do Estado e avaliou que a pré-candidatura de João Campos ultrapassa os limites da capital. Para ele, há um sentimento crescente no Agreste, na Mata e no Sertão em torno do nome do prefeito do Recife. A decisão, segundo Miguel, deve amadurecer após o Carnaval de 2026, quando João faria uma reflexão mais profunda sobre a possibilidade de disputar o Palácio do Campo das Princesas.
A entrevista ao Blog Ponto de Vista deixa claro que, apesar do discurso de harmonia, a federação vive um equilíbrio delicado: Miguel Coelho prega diálogo, reconhece ser minoria no estatuto estadual, questiona qualquer poder absoluto de Eduardo da Fonte e aposta que, se o impasse persistir, será a direção nacional — sob influência de Rueda — quem dará a palavra final sobre o futuro da chapa em Pernambuco.
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