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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

“ORAÇÃO DA EXTORSÃO”: ADVOGADA E SARGENTO TRANSFORMAM COBRANÇAS VIOLENTAS EM RITUAL MACABRO NO ENTORNO DO DF

Uma operação da Polícia Civil de Luziânia (GO) revelou um cenário que mistura violência, intimidação, religiosidade distorcida e corrupção policial. No centro da investigação, a advogada Tatiane Meireles e o sargento da PMGO Hebert Póvoa protagonizam imagens que chocaram até investigadores experientes: os dois aparecem realizando uma espécie de ritual sobre maços de dinheiro obtidos por meio de extorsões brutais, em um episódio batizado pelos policiais como “oração da extorsão”.

O vídeo, obtido durante a ofensiva deflagrada na sexta-feira (28/11), foi gravado em uma casa em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. Nele, Tatiane conduz uma reza carregada de referências ao dinheiro extorquido, enquanto o sargento, com semblante sereno, acompanha a oração com as mãos pousadas sobre o montante. Os maços estão dispostos à frente do casal como se fossem parte de um altar criminoso.

Enquanto os dois pedem que o dinheiro “retorne”, “seja abençoado” e “multiplique”, a gravação escancara um nível raro de confiança na impunidade e na estrutura da quadrilha. Investigadores afirmam que a cena traduz o grau de profissionalização e frieza existente na organização, que cobrava dívidas por meio de terror psicológico, espancamentos e ameaças de morte.

UMA QUADRILHA FORMADA PARA COBRAR PELO MEDO

A operação policial prendeu seis integrantes do grupo, entre eles Tatiane, o sargento Póvoa — que já foi candidato a vereador pelo PL —, outros dois policiais militares e dois civis. Todos são acusados de envolvimento em um esquema de agiotagem violenta, com crimes que incluem extorsão, tortura mediante sequestro e lavagem de dinheiro.

A investigação começou após uma denúncia interna da própria Polícia Militar, que identificou indícios de que Póvoa e outros agentes estariam utilizando o cargo para garantir o funcionamento do esquema.

Segundo a polícia, a quadrilha atuava com divisão de funções, armas, locais destinados às agressões e um sistema próprio de contabilidade. O ritual da “oração do dinheiro” seria uma espécie de celebração dos valores arrecadados à força, quase como uma reafirmação da união e da força do grupo.

“VOCÊ VAI APRENDER COMO FUNCIONA”: VIOLÊNCIA DOCUMENTADA EM VÍDEO

Além da cena da oração, a polícia coletou um conjunto de gravações que evidenciam o modo de operação da quadrilha — sempre marcado pela brutalidade. Um dos vídeos mais graves mostra o sargento Póvoa agredindo uma mulher que teria atrasado o pagamento de um empréstimo.

As imagens mostram o militar armado dentro da residência da vítima, que está sentada na cama, em posição de completa submissão. Ele desfere tapas no rosto dela enquanto a insulta de forma humilhante. Aos prantos, a mulher tenta explicar que sequer recebeu o valor cobrado.

Em um momento de desespero, ela suplica para não ter o celular levado, dizendo que precisa dele para trabalhar. Também oferece para que o agressor confira o armário, pedindo que veja que não havia sequer comida suficiente para a filha.

Mesmo diante da vulnerabilidade da vítima, o policial segue com ameaças e xingamentos, deixando claro que, ali, não havia espaço para diálogo — apenas para o medo.

AGRESSÕES COM PORRETES, CHUTES E HUMILHAÇÕES

Outras gravações mostram homens ajoelhados, chorando enquanto recebem golpes de tacos de baseball, cassetetes e socos. Em um dos registros, um dos criminosos sentencia: “Aqui no Goiás você vai aprender como funciona.”

Tatiane, longe de atuar apenas como suporte jurídico do marido, aparece envolvida diretamente nas sessões de agressão. Em uma das cenas, a advogada surge golpeando um homem com um cassetete, exigindo que ele se levantasse e levantasse o braço “na marra”.

Segundo os investigadores, a participação ativa da advogada indica que ela era peça essencial na engrenagem do grupo — não apenas legitimando contratos, mas auxiliando e até conduzindo atos de violência.

APREENSÕES ESTRUTURAIS

Durante os mandados cumpridos pela polícia, foram apreendidos diversos itens comprobatórios do funcionamento do esquema:

  • Armas de fogo;

  • Tacos, cassetetes e objetos utilizados nas agressões;

  • Aparelhos celulares;

  • Cerca de R$ 10 mil em espécie, parte identificada como o mesmo dinheiro exibido na “oração da extorsão”.

A Polícia Civil afirma que a quadrilha operava como uma organização criminosa plenamente estruturada, com capacidade de agir em diferentes regiões, intimidar vítimas e ocultar valores obtidos ilicitamente.

UM CASO QUE EXPÕE ESTRUTURAS PROFUNDAS

Para investigadores, o episódio evidencia não apenas a violência e corrupção em nível individual, mas um ponto de alerta sobre como agentes públicos podem ser utilizados para legitimar e fortalecer organizações criminosas, sobretudo quando a autoridade é empregada para constranger e silenciar vítimas.

O caso segue sob investigação, e novas denúncias estão sendo recebidas pela Polícia Civil de Luziânia, que acredita que o número de vítimas pode ser muito maior do que o já identificado.

Enquanto isso, as imagens — especialmente as da “oração da extorsão” — permanecem como símbolo de uma realidade perturbadora: um grupo que transformou crime, violência e dinheiro em ritual, devoção e poder.

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