Acerto de contas
No momento em que escrevo esse texto, é tida como certa a indicação do senador Humberto Costa como candidato petista à prefeitura do Recife. Aqui, em São Paulo e em Brasília, os caciques já anunciam essa saída para o impasse que se formou nas prévias locais entre João da Costa (atual prefeito) e Maurício Rands (secretário de Governo). Honestamente, eu já esperava a indicação de Humberto desde que o quiprocó petista foi bater no diretório nacional, semana passada.
Não há mais condições políticas para João da Costa ou Rands serem candidatos. O processo de prévias foi marcado por muita baixaria e seria impossível construir a unidade entorno de um dos dois. Humberto seria o nome natural e, talvez, já tivesse sido anunciado semana passada, caso ele não tivesse se envolvido tanto na campanha de Rands.
O senador petista não une o PT, mas certamente tem mais chances de unir os partidos da chamada Frente Popular. Será a grande chance de Humberto ganhar uma eleição em Pernambuco (até para senador, ficou em segundo). A prefeitura do Recife é um atalho para o governo do estado. Foi assim para Jarbas. Foi assim para Joaquim Francisco. Caso Humberto perca, será o fim de seu projeto de ser governador. Se vencer, só precisa garantir dois anos de boa gestão para se cacifar para 2014. E, cá para nós, fazer algo melhor não será tarefa difícil para quem suceder o poste que está aí.
Vejamos como fica a situação de cada player do jogo político, caso Humberto seja mesmo o candidato:
João da Costa
A tarefa mais difícil de Humberto será fazer o enterro de um morto-vivo. O perfil de João da Costa sugere que este vai estribuchar dentro do caixão até que a última pá de terra seja jogada. Carregar um caixão sem alça já é difícil. Muito pior com o morto se debatendo dentro, durante todo o processo eleitoral. Mas há também a possibilidade de João da Costa se resignar e dedicar o resto do seu governo a decorar a linda mansão que construiu no bairro de Apipucos, coincidentemente, depois que virou prefeito – prova de que, mesmo sendo um péssimo gestor público, João da Costa é bom em economia doméstica, pois erguer uma casa daquelas com os proventos de alcaide é coisa para gente muito habilidosa em artimanhas financeiras.

Maurício Rands
Dos males, o menor. Melhor perder para o chefe que para João da Costa. Rands deve cair de cabeça na campanha de Humberto e aproveitar para repensar o impacto dessas prévias na sua carreira política. Vai demorar um pouco até ele ter uma nova chance de uma candidatura majoritária.
João Paulo
A direção nacional do PT já disse com todas as letras que o ex-prefeito é o grande responsável por essa confusão toda. João Paulo deve se engajar com força na campanha de Humberto, caso queira recuperar algum prestígio no partido. De toda forma, só pode pensar num projeto de futuro quando criar coragem e sair do PT.
Eduardo Campos
Não tem como negar o apoio a Humberto. Este lhe tem sido fiel desde o início do governo. Eduardo já tinha pronto o nome de Fernando Bezerra Coelho (ministro da Integração), caso o PT não resolvesse logo seu imbróglio. A briga dentro do PSB, agora, é sobre quem será o vice de Humberto. O atual, Milton Coelho, deve se preparar para as puxadas de tapete que logo virão.
Armando Monteiro
Este deixou passar o cavalo selado. Deveria ter lançado seu nome enquanto o PT não conseguia se definir. Acho difícil Armando manter o projeto de terceira via. Seria romper com Eduardo e com Humberto cedo demais e pode acabar visto como responsável por uma possível vitória da oposição. Armando joga o jogo de 2014 e agora terá que ser muito habilidoso para se manter na disputa.

Oposição
Ficou muito mais difícil para a oposição agora. Apesar dos pesares, João da Costa e Rands eram nomes mais fáceis de serem enfrentados. Humberto terá o mesmo ônus que qualquer um da frente popular teria para justificar ao eleitorado os quatro anos de lambança de João da Costa. Mas une os partidos da frente, o que já é muita coisa no cenário atual. A estratégia da oposição precisa mudar. Eles agora precisam de um candidato “batedor”, que vá pra cima de Humberto, colando ele com o atual prefeito, relembrando o caso dos vampiros, etc. Raul Jungmann poderia cumprir bem esse papel, seu nome volta ao jogo.
Joaquim Francisco
Como bem disse hoje meu amigo João Valadares, esse é o grande vencedor das prévias do PT (apesar de filiado ao PSB). O neossocialista, suplente de Humberto, ganha de presente o cargo de senador da República, mesmo não tendo recebido voto sequer para ser vereador de Macaparana, sua terra de origem. Coisas dessa aberração que é o sistema político brasileiro.