O convite para integrar o elenco fixo da TV Globo, em 1970, abriu um novo capítulo em sua trajetória. A estreia na emissora aconteceu com a novela “Assim na Terra como no Céu” e, em seguida, vieram os grandes sucessos que o colocariam no panteão dos galãs históricos da teledramaturgia. Em “Selva de Pedra” (1972), interpretou Cristiano Vilhena, ao lado de Regina Duarte, formando uma das duplas românticas mais lembradas da televisão brasileira. A química entre os dois atores foi tanta que voltariam a atuar juntos em outras produções, como “O Semideus” (1973) e “Pecado Capital” (1975), de Janete Clair. Foi em “O Astro” (1977), no papel do misterioso Herculano Quintanilha, que Cuoco consolidou de vez a imagem do galã moderno, maduro e intrigante. O personagem, um camelô que fingia ser vidente, cativou o público e virou fenômeno cultural, com bordões repetidos nas ruas e uma legião de fãs. Anos depois, viveu o personagem novamente na reedição da trama, que ganhou nova versão com Rodrigo Lombardi. Outro papel memorável foi o de Paulo Della Santa em “O Outro” (1987), onde interpretou dois irmãos gêmeos com vidas e personalidades distintas, reafirmando sua habilidade técnica e emocional como ator. Em “Tieta” (1989), viveu o Padre Mariano, um sacerdote sensualizado pelas lembranças da protagonista vivida por Betty Faria. Ali, mais uma vez, Cuoco demonstrava o talento de se reinventar e desafiar estereótipos. Além das novelas, participou de minisséries e especiais de fim de ano, com destaque para “Agosto” (1993), baseada na obra de Rubem Fonseca, onde deu vida a um político envolto em intrigas, e “O Primo Basílio” (1988), adaptação do romance de Eça de Queirós. Em todos os gêneros, mostrou um compromisso ético com a arte: estudava minuciosamente cada texto, preparava seus personagens com rigor e buscava sempre entregar autenticidade em cena. Na virada do século, passou a atuar em papéis mais pontuais, muitas vezes como coadjuvante, mas sem jamais perder o brilho. Em “Passione” (2010), deu vida ao sofisticado Antero Gouveia. Em “Sol Nascente” (2016), foi o romântico Tanaka. Em “Segundo Sol” (2018), brilhou como Severo Athayde, um homem amargo que vive um arco de redenção. Seu último trabalho na televisão foi o especial “Juntos a Magia Acontece” (2020), exibido no Natal, onde interpretou um avô amoroso numa história de reconciliação familiar.
Francisco Cuoco também teve uma relação afetiva com a música. Nos anos 1980, gravou dois discos, sendo um deles inteiramente dedicado a orações e meditações — um reflexo de sua busca por espiritualidade e introspecção. No cinema, atuou em mais de 20 filmes, como “Amante Muito Louca” (1973), “Tudo Bem” (1978), “Feliz Ano Velho” (1987), “Carandiru” (2003) e “Casa da Mãe Joana” (2008), transitando do drama à comédia com a mesma desenvoltura.
Fora das telas, Cuoco sempre cultivou uma imagem discreta. Foi casado duas vezes, teve filhos, mas optou por manter a vida pessoal longe dos holofotes. Dizia que o personagem era mais importante que o ator — e talvez por isso tenha se tornado um dos intérpretes mais respeitados e duradouros da televisão brasileira.Em 2025, pouco antes de sua morte, foi homenageado na série documental “Tributo”, do Globoplay, que revisitou os principais momentos de sua carreira e ouviu depoimentos de colegas, autores e diretores que trabalharam com ele. A produção emocionou o público e foi considerada um reconhecimento tardio, porém justo, ao legado de um artista completo.
Francisco Cuoco sai de cena deixando uma ausência irreparável, mas também uma presença permanente em nossa memória cultural. Cada personagem, cada frase dita com voz pausada, cada olhar que carregava emoção contida — tudo isso faz parte da história de milhões de brasileiros que cresceram, sonharam e se emocionaram ao vê-lo em ação. Cuoco não interpretava apenas personagens: ele interpretava a alma humana com delicadeza, respeito e paixão.Seu nome, agora, pertence à eternidade.