A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de impor o uso de tornozeleira eletrônica ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de restringir seu acesso às redes sociais e proibir contatos com representantes estrangeiros, marca uma escalada no cerco judicial que se fecha em torno do principal nome da direita brasileira. O ex-chefe do Executivo está sendo investigado por suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado e, em declarações recentes, chegou a afirmar que se vê a “um mês da prisão”. O clima de inevitabilidade cresce à medida que o processo judicial avança, impulsionado agora por fatores internacionais, como a recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar tarifas sobre produtos brasileiros, reacendendo uma guerra comercial com Brasília.
A relação entre os dois países, historicamente marcada por pragmatismo, entra agora em um novo ciclo de tensão política e econômica. O tarifaço de 50% sobre commodities agrícolas e produtos da indústria brasileira entra em vigor em 1º de agosto, acentuando o desequilíbrio da balança comercial, em especial após o Brasil ter fortalecido parcerias com os BRICS e avançado na proposta de uma moeda alternativa ao dólar. Nos bastidores, analistas interpretam a medida como um gesto político de Trump, uma reação à reconfiguração dos blocos econômicos globais e à retórica brasileira sobre soberania digital e tributação das big techs. Enquanto o governo Lula adota tom moderado em público, nos gabinetes do Itamaraty o desconforto é crescente.
O ex-presidente norte-americano, ao agir de forma direta contra o Brasil, coloca em xeque não apenas as relações comerciais, mas também escancara o viés ideológico que permeia suas decisões. A proximidade entre Trump e Bolsonaro, consolidada durante o mandato do brasileiro, influencia diretamente o comportamento de lideranças conservadoras no país. Muitos bolsonaristas veem no movimento de Trump um gesto de apoio e reforçam o discurso de que a perseguição judicial a Bolsonaro é política. O problema é que os desdobramentos jurídicos estão em estágio avançado, e as possibilidades de reversão são cada vez mais remotas. As decisões do STF têm se apoiado em robustas investigações da Polícia Federal, alimentadas por quebras de sigilo, delações e rastreamento de dispositivos eletrônicos.
No plano interno, o governo Lula continua enfrentando elevados índices de rejeição, mas ganhou fôlego com a recente exposição das ações bolsonaristas e com o apoio internacional que tem recebido em fóruns multilaterais. A condução da política externa se torna ainda mais relevante no atual cenário, sobretudo quando confrontada com uma oposição que aposta no retorno ao poder em 2026. O problema é que Bolsonaro, mesmo como líder simbólico, já está fora da disputa presidencial por conta de condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A expectativa do PL e de seus aliados é a construção de um nome viável, que mantenha a base mobilizada, mesmo sem o ex-presidente na cabeça de chapa.
A escalada do conflito com os EUA, porém, adiciona novos elementos à conjuntura. A política externa brasileira, que buscava uma posição de neutralidade estratégica entre Washington e Pequim, é agora empurrada para um jogo de alta temperatura. O governo americano acusa o Brasil de favorecer o “globalismo” em detrimento dos interesses ocidentais. Do lado brasileiro, a resposta ainda é de cautela, mas há pressão crescente para medidas de retaliação, especialmente nas exportações de produtos norte-americanos que afetam o agronegócio local. O ambiente internacional, somado à instabilidade institucional no país, cria um campo fértil para narrativas conspiratórias e confrontos discursivos, tanto nas redes quanto nas ruas.
Enquanto isso, o ex-presidente Bolsonaro, ainda popular entre uma parte significativa do eleitorado, se vê acuado. A tornozeleira, símbolo físico de sua nova condição judicial, amplia o abalo simbólico sofrido por sua base. O bloqueio de redes sociais, seu principal canal de mobilização política, dificulta ainda mais sua articulação. Nos bastidores, seus aliados avaliam que a prisão pode se tornar inevitável caso ele descumpra alguma das medidas impostas pelo Supremo. O momento é decisivo. O Brasil, que já assistiu a presidentes cassados, presos e desacreditados, vive novamente um capítulo em que a política e a Justiça se cruzam, sob a vigilância de uma comunidade internacional cada vez mais dividida entre interesses comerciais, alianças ideológicas e disputas geopolíticas.