Por Greovário Nicollas.
A política, às vezes, nos surpreende com cenas que parecem roteiros de comédia trágica. Foi o caso da trapalhada recente protagonizada por Donald Trump e Eduardo Bolsonaro, que, em vez de ferirem Lula e o PT, acabaram por fornecer, de bandeja, a bala de prata que faltava para consolidar o discurso governista. Contrariando todas as expectativas, o tiro saiu pela culatra – e com força. A tal taxação de 50% nas compras internacionais, que seria o estopim para um caos popular, acabou sendo vendida como um gesto de proteção à indústria e ao trabalhador nacional. E enquanto a oposição pensava estar encurralando o presidente Lula, acabou por construir, sem querer, uma ponte para sua narrativa favorita: a defesa do Brasil contra interesses estrangeiros e elites descomprometidas com o país. Um verdadeiro presente dos céus.
Se Lula está “para ganhar”, como se diz no jargão popular, é porque até os inimigos parecem trabalhar para ele. Tudo que os adversários fazem dá errado, e esse episódio é a maior prova disso. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e Eduardo Bolsonaro, ao tentarem transformar uma bandeira conservadora internacional em pauta brasileira, acabaram por desorganizar ainda mais a base da direita nacional, já fragmentada, desorientada e refém de seus próprios excessos. Nem Sidônio Palmeira, marqueteiro do governo e estrategista da comunicação, sonharia com tamanha sorte. Sorte, sim — porque estão lidando com um grupo de aloprados que parece não medir consequências e insiste em cavar a própria cova política. No linguajar popular, é como se estivessem com comportamento de “jegue”, e com todo o respeito ao animal que é trabalhador, digno e companheiro do homem nordestino, não dá pra ignorar a comparação: cabeça dura, sem direção e agindo no impulso.
Lula e o PT não precisaram mover uma palha. Os adversários fizeram o serviço sozinhos. Eduardo Bolsonaro, que até então estava quieto, livre de problemas jurídicos imediatos e sendo apontado como presidenciável viável no PL, resolveu abrir fogo… contra o próprio pé. Uma bazucada política. Vai entender. E mais: esse erro monumental ainda gerou um efeito colateral inesperado — calou o Centrão. O grupo fisiológico mais pragmático da política brasileira já começou a rever estratégias, ensaiando um afastamento calculado do bolsonarismo, por puro instinto de sobrevivência. Se até o Centrão está recuando, imagine o restante da direita que assiste à sucessão de erros com as mãos na cabeça. A realidade é que, do jeito que vai, Lula caminha firme para um quarto mandato presidencial. Seu governo enfrenta mares revoltos, mas ele tem o dom político da resistência. Só uma fatalidade parece capaz de interromper esse ciclo. E não, isso não é torcida — é constatação. A política, afinal, não perdoa amadores, impulsivos ou desinformados.
Este texto não é defesa de Lula, nem ataque gratuito a adversários. É apenas o retrato fiel de uma conjuntura em que os maiores inimigos da direita brasileira parecem ser… eles mesmos. A continuar assim, nem Lula vai acreditar na sorte que tem.
*Articulista, Periodista e Colaborador do Blog do Edney*
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