Nem os mortos estão livres dos gestores públicos
Mesmo nos dias de sol, a quadra 35 do cemitério de Santo Amaro fica alagada
Túmulos submersos ou destruídos pela chuva, ossos à mostra, lama, equipe insuficiente de coveiros, carência de material de trabalho. São inúmeros os problemas dos principais cemitérios do Recife. Na última quinta-feira (04), a reportagem visitou as instalações do Parque das Flores, em Tejipió, e do Cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção, mais conhecido como Santo Amaro. A situação de descaso da gestão pública provoca indignação nas pessoas que escolheram os locais para enterrar seus entes queridos.
Mesmo em um dia de sol forte, como na última quinta, é possível encontrar áreas alagadas na necrópole de Santo Amaro, considerada a principal do Recife, com 8.395 covas e 5.894 catacumbas. A situação é pior nas quadras 28 e 35, onde a água danificou túmulos e placas de identificação. Quem se arrisca a visitar um dos túmulos nessa área precisa pisar na lama. "Todo inverno é isso. Não adianta reclamar porque a prefeitura não resolve. Eles só fazem alguma coisa próximo ao Dia de Finados (2 de novembro). O cemitério fica todo bonito. Mas eles só pintam e isso não adianta. Depois de um mês está feio novamente", denuncia um funcionário do cemitério, que preferiu não se identificar, pois tem medo de sofrer retaliação. Não só ele, mas todos os funcionários que conversaram com a reportagem pediram para não ter o nome divulgado.
Mesmo em um dia de sol forte, como na última quinta, é possível encontrar áreas alagadas na necrópole de Santo Amaro, considerada a principal do Recife, com 8.395 covas e 5.894 catacumbas. A situação é pior nas quadras 28 e 35, onde a água danificou túmulos e placas de identificação. Quem se arrisca a visitar um dos túmulos nessa área precisa pisar na lama. "Todo inverno é isso. Não adianta reclamar porque a prefeitura não resolve. Eles só fazem alguma coisa próximo ao Dia de Finados (2 de novembro). O cemitério fica todo bonito. Mas eles só pintam e isso não adianta. Depois de um mês está feio novamente", denuncia um funcionário do cemitério, que preferiu não se identificar, pois tem medo de sofrer retaliação. Não só ele, mas todos os funcionários que conversaram com a reportagem pediram para não ter o nome divulgado.
Para visitar os túmulos é preciso sujar o pé na lama
A doméstica Maria José de Jesus, de 49 anos, aproveitou o sol da quinta para visitar o túmulo da mãe, falecida em abril de 2010. A cova está no lote 36, uma das áreas atingidas pela água, mas que felizmente estava seca na quinta. "Quando chove muito alaga tudo aqui. Para evitar que o túmulo seja destruído, a cada três meses, o meu marido vem aqui e coloca bastante areia ao redor. Ainda bem que hoje está seco", conta a doméstica, que conversou com a reportagem enquanto cuidava das flores plantadas por ela no túmulo da mãe.
Maria José precisa colocar terra ao redor do túmulo da mãe para protegê-lo da água
O diretor de manutenção urbana da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), Fernando Melo, justificou que os alagamentos foram provocados pelas fortes chuvas que caíram na cidade e pela pouca capacidade de absorção do solo recifense, mas que a prefeitura pretende reduzir o problema. "Estamos realizando as exumações da quadra 35, uma das mais prejudicadas. Depois que a área for totalmente desocupada, vamos aterrá-la com areia para melhorar a absorção e assim acabar com os alagamentos. Os serviços devem começar neste mês", disse. O diretor da Emlurb informou ainda que a prefeitura está realizando uma obra de ampliação do cemitério, que deverá ganhar mais 1.700 catacumbas. A obra, orçada em R$ 1,7 milhão, já está em andamento e acontece na ala sul, conhecida como área das Palmeiras.
PARQUE DAS FLORES - Se o cemitério de Santo Amaro sofre com os alagamentos, o Parque das Flores é vítima da erosão. Embora aparente ter menos problemas do que o de Santo Amaro, por ser mais novo e não ter construções de catacumbas e túmulos de concreto, predominando o verde, a necrópole do Parque das Flores possui falhas na manutenção. As chuvas dos últimos meses encharcou o solo e provocou o desmoronamento de vários túmulos. "Depois de avisar várias vezes para a administração e não ter resposta, resolvi contar o número de túmulos expostos. São 68, muitos há mais de dois meses abertos", denuncia um funcionário.
A erosão já destruiu várias covas do Parque das Flores
Além de placas de concreto quebradas, em alguns túmulos é possível ver ossos dentro dos buracos. No lote 7 da quadra 1, a abertura provocada pela erosão deixa à mostra os ossos dos membros inferiores da pessoa sepultada na cova. No lote 328 da mesma quadra é possível ver um crânio. Já o lote 197 não parece um túmulo, e sim um bueiro cheio de água e lixo.
É possível ver ossos dentro das covas abertas pela erosão
"Uma vez fui reclamar e a administração disse que estava faltando tijolo e cimento para consertar as covas", contou um dos trabalhadores informais que atuam no cemitério. Como a manutenção dos túmulos particulares é de responsabilidade dos proprietários, muitas famílias contratam terceiros para realizarem serviços de limpeza e jardinagem. Eles cobram de R$ 15 a R$ 30 por mês para cuidar das covas. Porém, se o túmulo sofrer algum tipo de avaria, a Prefeitura do Recife tem a obrigação de consertar. "Um dos túmulos que eu cuido desabou há mais de um mês. Já avisei e a administração ainda não fez nada", denunciou o jardineiro informal.
O lote 197 da quadra 1 não parece um túmulo, e sim um bueiro cheio de água e lixo
Até os servidores do cemitério estão insatisfeitos com a administração. "Falta tudo. Sou eu quem compro minhas botas e luvas para trabalhar. Falta até placa de concreto para fazer enterros. Muitas vezes tenho que reaproveitar placas de covas que não estão sendo utilizadas para fazer o sepultamento", denuncia um coveiro. Segundo ele, a equipe também é reduzida para atender a demanda.
De acordo com dados repassados pela Emlurb, oito coveiros realizam cerca de 120 sepultamentos por mês no Parque das Flores. Para o diretor da Emlurb, o número é suficiente. "A nossa maior demanda é em Santo Amaro (que realiza 600 enterros por mês). E quando achamos necessário, realizamos remanejamentos de servidores", afirmou.
Sobre os túmulos abertos, Fernando Melo disse que a prefeitura já comprou o material de construção necessário para os consertos, que devem começar nas próximas semanas. "Realizamos uma grande ação no início do ano e agora vamos fazer outra. Além disso, fazemos reparos constantemente", disse o diretor. Em relação ao fardamento e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) dos funcionários, Fernando Melo afirmou que a Prefeitura realiza uma licitação a cada início de semestre para compra do material. Porém, ainda não há previsão de entrega dos EPI aos funcionários neste segundo semestre. "Vamos entregar neste semestre, mas ainda não temos previsão de data".
HISTÓRIA - O cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção (Santo Amaro) foi inaugurado em 1º de março de 1851, para receber, inicialmente, pessoas vitimadas pelo surto da febre amarela e que não podiam ser sepultadas em igrejas, como era o costume da época. Com o passar dos anos, se transformou no principal cemitério da cidade. Na necrópole estão localizados túmulos que se destacam pela suntuosidade como os do Barão de Mecejana, de Joaquim Nabuco e de Agamenon Magalhães. O local conta com 69 funcionários, dos quais 22 são coveiros. Já o Parque das Flores só passou a ser público no ano de 1977. O local abriga 22 mil túmulos perpétuos e possui 45 funcionários, sendo oito coveiros.
Além do Santo Amaro e Parque das Flores, a Prefeitura do Recife administra os cemitérios da Várzea, Casa Amarela e Tejipió.
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