Ricardo Braga é colunista do NE10 e resgatou esta crônica ao ler no JC que o prédio poderá ser tombado. ''É apenas uma contribuição ao espírito que deve envolver os que querem proteger este templo'', escreveu.
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Ricardo BragaEspecial para o NE10
Há algum tempo nutria o desejo de me hospedar no Hotel Central, em prédio clássico de 1931, com oito andares de lembranças para os que nele curtiram momentos de suas vidas. Eu nunca tinha visitado este templo, mas sempre admirei a sua porta de entrada e a varanda externa. Era, digamos, um fetiche não realizado.
Num fim de semana resolvi experimentá-lo e ocupei o apartamento 701. Na portaria, já sem pompa e luxo, os móveis negros em jacarandá são testemunhos das festas e encontros da burguesia, enquanto a central telefônica manual, a primeira instalada em um hotel do Recife, guarda segredos para sempre. No quadro de avisos, um recorte antigo do Jornal do Commércio diz que lá já se hospedaram Getúlio Vargas, Carmen Miranda e Orson Welles, o que sinaliza o alvoroço com elegância dos tempos vividos.
Percebo então, resquícios do charme da época quando uma gaiola iluminada desce ao térreo e abre sua porta de grade em sanfona. O ascensorista tranca-a novamente e subo, enquanto cabos de aço e barras metálicas são vistos a se movimentar, sem esconder a magia mecânica que permite a ascensão dos mortais. A mim, cabe curtir as passagens de piso, como cenas de um filme cuja câmara passeia por vários cômodos.
Do quarto, por uma janela ampla, avisto os raios da tarde sobre o Pátio de Santa Cruz, com a igreja e o casario. No segundo plano da paisagem enxergo mais cúpulas históricas e letreiros em néon, que não frustram a visão na sua busca do infinito. Mais ao longe, traços da modernidade, como a Ponte do Pina, e contemporâneos, como os edifícios de Boa Viagem. Ainda mais distante, o mar.
O Hotel Central, como um velho hotel de glamour, ainda hospeda alguns fiéis moradores, que esqueceram de fazer o checkout ou mesmo não têm para onde ir, tornando permanente o transitório. Porém hoje, além dos prestadores de serviços itinerantes, alguns hóspedes são universitários, ou simplesmente recém-descasados, que o consideram parceiro nesta hora difícil, tomando-o como ponto de fuga nos primeiros dias de saudade, ou de libertação.
Por tudo, o Hotel Central ainda cumpre um belo papel e precisa ser preservado.
Recife, bairro da Boa Vista, domingo, 23 horas do dia 06 de julho de 2008.
Num fim de semana resolvi experimentá-lo e ocupei o apartamento 701. Na portaria, já sem pompa e luxo, os móveis negros em jacarandá são testemunhos das festas e encontros da burguesia, enquanto a central telefônica manual, a primeira instalada em um hotel do Recife, guarda segredos para sempre. No quadro de avisos, um recorte antigo do Jornal do Commércio diz que lá já se hospedaram Getúlio Vargas, Carmen Miranda e Orson Welles, o que sinaliza o alvoroço com elegância dos tempos vividos.
Percebo então, resquícios do charme da época quando uma gaiola iluminada desce ao térreo e abre sua porta de grade em sanfona. O ascensorista tranca-a novamente e subo, enquanto cabos de aço e barras metálicas são vistos a se movimentar, sem esconder a magia mecânica que permite a ascensão dos mortais. A mim, cabe curtir as passagens de piso, como cenas de um filme cuja câmara passeia por vários cômodos.
Do quarto, por uma janela ampla, avisto os raios da tarde sobre o Pátio de Santa Cruz, com a igreja e o casario. No segundo plano da paisagem enxergo mais cúpulas históricas e letreiros em néon, que não frustram a visão na sua busca do infinito. Mais ao longe, traços da modernidade, como a Ponte do Pina, e contemporâneos, como os edifícios de Boa Viagem. Ainda mais distante, o mar.
O Hotel Central, como um velho hotel de glamour, ainda hospeda alguns fiéis moradores, que esqueceram de fazer o checkout ou mesmo não têm para onde ir, tornando permanente o transitório. Porém hoje, além dos prestadores de serviços itinerantes, alguns hóspedes são universitários, ou simplesmente recém-descasados, que o consideram parceiro nesta hora difícil, tomando-o como ponto de fuga nos primeiros dias de saudade, ou de libertação.
Por tudo, o Hotel Central ainda cumpre um belo papel e precisa ser preservado.
Recife, bairro da Boa Vista, domingo, 23 horas do dia 06 de julho de 2008.
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