O embate entre o prefeito João da Costa e o secretário estadual de Governo Maurício Rands pelo direito de ser o candidato petista à PCR já entrou na história do PT. E pode ficar ainda mais emblemático: em que pese ser extenso o histórico de divergências e desavenças internas, nunca, nos 32 anos de história da legenda, a Executiva Nacional alterou – ou anulou – o resultado de uma prévia. E, segundo rumores nos bastidores – além de declarações dadas pela alta cúpula do PT –, tal possibilidade é a mais provável de ser concretizada após a reunião prevista para esta quinta (24), em São Paulo.
“O que aconteceu de mais parecido com essa situação dentro do PT foi em 1998, no Rio de Janeiro, quando a direção estadual do partido decidiu que Vladimir Palmeira seria candidato ao governo do Estado, mas a nacional resolveu que o partido iria apoiar a candidatura de (Anthony) Garotinho (então no PSB), colocando Benedita da Silva na vice”, relembra o deputado federal Paulo Rubem (PDT), ex-militante histórico e fundador do PT, que deixou a sigla em 2007 por divergências internas. “Foi uma intervenção mas, naquele caso, não houve uma alteração em resultado de prévia, porque ela não aconteceu. Isto sim é inédito”.
Na avaliação não apenas de Paulo Rubem, mas de diversos petistas – incluindo o próprio Vladimir Palmeira (que saiu do partido no ano passado, insatisfeito com o “perdão” da legenda a Delúbio Soares) –, esse processo ocorrido no Rio foi o responsável pela derrocada do PT naquele Estado. Em 2002, Garotinho deixou o governo para ser candidato à Presidência da República – contra Lula –, Benedita assumiu o governo, mas não conseguiu se reeleger. “Desde então o partido nunca mais foi forte no Rio”, destaca Rubem.
Historicamente, quando se fala em problemas em prévias no PT sempre surge como exemplo o caso do Rio Grande do Sul, onde em duas ocasiões o petista que estava no poder teve que passar pelas primárias do partido para ser candidato à reeleição – e, em ambas as vezes, acabou sendo derrotado internamente. Em 2000, o prefeito de Porto Alegre Raul Pont pleiteava um novo mandato, mas acabou perdendo a disputa interna para o atual governador, Tarso Genro. Em 2002, foi a vez de Olívio Dutra, que governava o Estado, lutar pelo direito de ser reeleito. Novamente Genro entrou na disputa – e mais uma vez sagrou-se vencedor. Os casos ficaram marcados pelo processo traumático em que se realizaram – em 2002, o PT acabou perdendo o governo para o PMDB, que elegeu Germano Rigotto. Mas, embora tenha havido uma inquietação da cúpula nacional, em nenhum dos casos ocorreu intervenção.
“Caso o PT altere o resultado ou cancele a prévia de domingo, será um marco histórico do partido, nascido com grande influência do novo sindicalismo do final dos anos 70, que tinha como uma das principais características levar a democracia interna às últimas consequências – como é o caso das prévias”, analisa o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto.
“No momento em que esse instrumento (a prévia) está sendo questionado, deve-se questionar também se existe ou não democracia interna dentro do PT. Um cacique decidir é muito menos democrático que uma prévia, algo que o PT sempre tentou preservar, por mais traumática que seja”, avalia.
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