sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Biografia do mito Luiz Gonzaga



Em filmes que biografam grandes personalidades, o trabalho principal parece ser do ator; o profissional que incorpora a pessoa real deve não apenas imitar gestos ou repetir frases, mas criar empatia através da intensidade da atuação. O diretor, neste caso, vem com a prioridade de organizar diferentes etapas. Em “Gonzaga: de pai para filho”, biografia dirigida por Breno Silveira (“Dois filhos de Francisco”), o trunfo é a história desse ícone reconhecido como Rei do Baião.
O foco narrativo é a relação entre Luiz Gonzaga (1912-1989) e seu filho, o também músico Gonzaguinha (1945-1991). O problema do filme parece ser não conseguir dar conta do mito Gonzagão: ao mesmo tempo em que a narrativa é dividida entre brigas, desavenças emocio­nais que de certa forma possuem apelo universal (o choque de gerações diferen­tes, de ideologias distintas), há o interesse de biografar o músico, contar fatos impor­tantes em sua trajetória.
Nessa perspectiva de narrar muitas histórias, Breno parece diminuir a força do enredo; entre observar a relação familiar e a biografia o mito, o diretor tentou contar o máximo dos dois lados - opção que acaba, pela dinâmica do cinema (um filme como esse não pode ter muito mais do que duas horas), sendo excessivamente panorâmica nas duas frentes. A notícia de que o projeto deve virar minissérie da Rede Globo faz sentido: com mais tempo, a história deve fluir melhor.
Gonzagão e Gonzaguinha são interpretados, cada um, por três atores diferentes (ver matéria abaixo), para representar infância, juventude e vida adulta. O filme ainda vai e volta no tempo, conta uma história da adolescência, traumas de amor e participações de Gonzagão no exército, depois pula para os 70 anos do músico, a crise financeira, em seguida retorna para quando o cantor teve filho, perto dos 30 anos; tarefa difícil evitar confusão quando a tentativa é ser vasto tendo como ambição a completude, usando seis diferentes atores apenas para os dois papéis principais.
Como era esperado, o filme tem na música material vasto para criar vínculos emocionais com o público. São usadas na trilha as grandes composições de Gonzagão, além de Breno explicar o contexto sentimental do cantor no processo de criação de seus maiores sucessos (destaque, por exemplo, para a melancolia por trás da escrita de “Asa Branca”, quando o cantor sentia que não se comunicava com o público e tinha acabado de sofrer um acidente de carro).
É curioso notar, no entanto, que em momentos de maior intensidade emocional Breno recorre, inexplicavelmente, a músicas genéricas do cinema; uma delas em particular, quando pai e filho confrontam emoções íntimas, falam de coração sobre sentimentos do passado - escolha curiosa quando o protagonista do filme é dos maiores intérpretes musicais do Brasil.
Outro destaque é a grande pesquisa promovida pela equipe de produção. Um material vasto de arquivo é exibido no filme, imagens incríveis de Gonzagão e Gonzaguinha em shows (numa cena particularmente emocionante, os dois dividem o palco), além de trechos em áudio de uma conversa que os dois gravaram (foi desse áudio que surgiu o livro no qual o filme é baseado, “Gonzaguinha e Gonzagão”). Nesses momentos é possível notar o bom trabalho dos atores em incorporar os trejeitos dos biografados (especialmente Júlio Andrade, cópia fiel de Gonzaguinha).
Pela grande curiosidade e fascínio que a música de Gonzagão exerce, “Gonzaga: de pai para filho” deve ser um grande sucesso de público, embora tenha problemas sérios de construção dramática e encadeamento narrativo.

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