A Zona da Mata de Pernambuco está no centro da atração de novos investimentos no Estado. Ao longo da história, a região foi protagonista da economia do açúcar. Agora participa de um novo ciclo de desenvolvimento.
Ao Sul ancorada na expansão do Complexo de Suape e, ao Norte, tracionada pelo nascimento de um polo automotivo e da tecnificada indústria farmacoquímica. Apesar da perspectiva de expansão econômica, a preocupação com os déficits socais ganha força. Nesta segunda-feira, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape) – junto com um grupo de entidades – apresenta um documento batizado de “Diretrizes para Reestruturação Socioprodutiva da Zona da Mata”.
Com 85 propostas, o trabalho será apresentado durante um ato no Sindicato dos Bancários, no Centro de Recife, a partir das 14h. Nos próximos dias, após o movimento, as proposições também vão chegar à Assembleia Legislativa de Pernambuco, governos estadual e federal e prefeituras municipais.
A produção do documento vem sendo discutida desde o início do ano, em ciclos de reuniões, oficinas e seminários. Uma das discussões foi encabeçada pela economista Tania Bacelar, que debateu tendências e desafios. “Nossa preocupação é que os investimentos na região desconsiderem os problemas sociais. A Mata tem alta taxa de mortalidade infantil, baixa escolaridade, grande parte da população vivendo em situação de extrema pobreza e decadência da atividade açucareira”, enumera Paulo Roberto Rodrigues, diretor de Política Salarial da Fetape. O documento traz um retrato das condições socioeconômicas da região e aponta diretrizes distribuídas em quatro eixos: acesso à terra, apoio à produção agrícola familiar, políticas públicas e assalariamento rural.
A Fetape defende um modelo econômico baseado no emprego sustentável. “Nessa nova economia, a população de baixa escolaridade acaba conseguindo postos de trabalho na construção. Mas sabemos que esse emprego é temporário. Por isso o pleito é para que ocorra a reestruturação das atividades produtivas, com destaque para a produção de alimentos. Isso permitirá a redução do êxodo rural, com emprego e renda ao homem do campo”, diz.
Na avaliação da Fetape, não adianta o governo realizar desapropriações de terra sem oferecer assistência técnica e garantia de compra da produção dos assentados. “É preciso garantir infraestrutura social e produtiva a esses agricultores”, reforça Rodrigues. Levantamento realizado pela Federação aponta para o crescimento da violência no meio rural e acredita que o problema pode estar vinculado.
Diversificação no meio rural é maior proposta
RETRATO Tania Bacelar destaca como desafios para a reestruturação produtiva aherança da estrutura fundiária na região, com o domínio de usineiros sobre as terras
O trabalho defende a diversificação produtiva, com aposta na pecuária, piscicultura, apicultura, avicultura, caprinocultura, carcinicultura, suinocultura e hortifruticultura, além do aperfeiçoamento da cadeia da cana-de açúcar, por meio do beneficiamento de produtos como açúcar mascavo, rapadura, melaço e cachaça artesanal.
Levantamento realizado pela economista Tania Bacelar aponta que a produção de cana-de-açúcar em Pernambuco vem perdendo participação nacional. Em 1980, o Estado detinha fatia de 13,9%, atrás apenas de São Paulo (53,3%) e Alagoas (14,3%). Em 2013,a participação pernambucana foi reduzida a 2,3%.
O encolhimento na produção da matéria-prima também fez minguar a participação estadual na fabricação dos derivados. No mesmo intervalo de tempo, a fatia na produção de açúcar em âmbito âmbito nacional caiu de 16,4% para 3,2%. No etanol, a diminuição foi de 5,5% para 1,2% no mesmo período de 33 anos.
“Essa situação se repete na geração de emprego do setor. Há 30 anos, o número de canavieiros chegava a 250 mil. Hoje está na casa de 80 mil. Muitas cidades ainda são fortemente dependentes da monocultura da cana, que vive uma situação de vulnerabilidade. Não acreditamos que a atividade será dizimada, mas está clara a perda de importância histórica e econômica”, observa Paulo Roberto Rodrigues, diretor de Política Salarial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape). O diretor destaca o fechamento de várias usinas e a suspensão da moagem em várias unidades por conta da seca ou de problemas financeiros e judiciais.
Tania Bacelar destaca como desafios para a reestruturação produtiva, a herança da estrutura fundiária na região (como domínio de usineiros sobre as terras), a herança da monocultura, o baixo nível de qualificação dos trabalhadores e o momento econômico da região (que acaba carreando a atenção das políticas públicas para outras atividades).
“Temos a preocupação de que esses trabalhadores rurais não consigam se inserir nos novos setores que estão se instalando na região. Por isso nos debruçamos sobre os déficits sociais da Zona da Mata para chamar atenção para as necessidades dessa população”, conclui Rodrigues.
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