Matusquela durante toda a novela, Candinho (José Loretto) anda tendo momentos de sabedoria: alguns personagens, de repente, mudaram de personalidade (Divulgação)
Flor do Caribe (Globo, 18h20) chegou à última semana com menos fôlego do que se costuma esperar de uma trama em seus “momentos finais”. Novela praiana, ela manteve durante os seis meses no ar um ritmo mais tranquilo que combinou bem com o cenário paradisíaco do Rio Grande do Norte. Mas, obrigada a ficar no ar uma semana além do previsto, para dar mais tempo à produção da sucessora Joia Rara,que estreia nesta segunda (16), a trama de Walther Negrão perdeu a oportunidade de surpreender os telespectadores que a prestigiaram – e não foram poucos, uma vez que é sucesso no Ibope, com média de 30 pontos.
O fermento saiu caro: da semana passada até agora, o que mais se viu foram sequências longas, com conversas que pareciam intermináveis, e um punhado de acontecimentos que soaram desnecessários. Nessa toada, até mesmo as ações de merchandising ajudaram a preencher os capítulos e alguns personagens dão a impressão de que mudaram de personalidade de uma hora para outra.
Uma das figuras femininas mais simpáticas da novela, a bióloga Nathália (Daniela Escobar) ficou um pouco boba depois que se casou com o pescador Juliano (Bruno Gissoni). Com a trama dela resolvida na semana passada, a solução foi criar novos conflitos. Por isso, o fato de as filhas dela andaram seminuas pela casa passou a ser um grande problema – e o bonitão Juliano, de repente, virou um tremendo careta. No capítulo de terça (10), ela se lembrou de que não escreveu uma linha sequer da pesquisa que a levou à Vila dos Ventos. Veio bem a calhar, já que agora ela terá com que se ocupar nestes capítulos finais. Mas não é estranho que a personagem tenha simplesmente esquecido de trabalhar?
Em novela, uma semana pode ser uma eternidade. Em geral, quando consultados sobre ficar um tempo a mais no ar, os autores costumam recusar – acabou de acontecer com Glória Perez, que quase teve de esticar sua Salve Jorge para favorecer a produção dos primeiros capítulos deAmor à Vida.
Por isso, em Flor do Caribe, houve tempo de sobra para que Cassiano (Henri Castelli) criasse um suspense vazio, ao desconfiar de que a amada Ester (Grazi Massafera) pudesse estar muito doente – quem sabe um tumor? – após ela uma vertigem. Mas que nada, era gravidez. E que tipo de gente cogita logo um tumor diante de um sintoma de típico de gestante? Só mesmo um mocinho que esteja precisando ficar mais tempo no ar.
Todo tempo sobrando, entretanto, não conseguirá solucionar o maior mistério da novela: quantos anos, afinal, tem o “velho” Dionísio (Sérgio Mamberti)? Quanto mais do passado do “simpatizante do nazismo que teve importante papel durante a Segunda Guerra Mundial” vem à tona, mais se chega à conclusão de que o vilão só pode ser centenário. Mas se é assim, como ele pode parecer mais jovem e faceiro do que seu inimigo, Samuel (Juca de Oliveira), segundo consta, perseguido por ele quando criança? Definitivamente não é o pior da novela, mas é um tipo de licença poética que não fica bem numa obra tão amparada em fatos reais. Rocambolesca na tentativa de misturar história mundial e folhetim, a trama acabou se mostrando frágil e, mesmo favorecida pela bela embalagem e competente na busca pela audiência, não contou muita coisa.
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