Prefeitura gasta R$ 2 milhões para recuperar os imóveis alvos dos rabiscos
Arthur Mota/Folha de Pernambuco
A maioria dos desenhos é pintada com spray da cor vermelha, preta e azul
Embora seja uma prática ilícita, as pichações são comuns as grandes cidades e fazem arte do cenário urbano. No entanto, os desenhos de assinaturas em muros e monumentos públicos e privados tiram o sossego de muita gente geram custos aos cofres do governo.
Só no Recife, anualmente, a Prefeitura gasta R$ 2 milhões para recuperar os móveis alvos desse tipo de vandalismo. Para os donos as casas e prédios comerciais construídos ao longo da avenida João de Barros, no bairro a Boa Vista, área central da capital, as pinturas há algum tempo são sinônimos de dor e cabeça. Os proprietários pintam as fachadas e no dia seguinte os rabiscos estão lá novamente.
Diogo Nascimento de Oliveira, de 29 anos, tem um móvel comercial nas proximidades do viaduto da João e Barros. No mês passado, ele gastou cerca de R$ 50 para pintar a parede da fachada e s assinaturas quase indecifráveis já estão lá. “Gastamos dinheiro e tempo, e essas pessoas sujam tudo da noite para dia. Infelizmente, nunca soube de nenhum pichador reso por aqui. Não há punição para essas pessoas”, afirmou o empresário.
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), não existe estatística específica para prisões por pichações. As ocorrências são marcadas, apenas, como vandalismo.
Embora não existam registros oficiais de pichadores presos em Pernambuco, na Lei de Proteção Ambiental a pichação é prevista como uma agressão ao meio ambiente, com previsão de pena de prisão de três a um ano, além de multa.
Enquanto não há uma conscientização de que sujar a parede alheia sem permissão é crime e não houver ações de repressão, os rabiscos deverão permanecer nos centros urbanos por muito tempo.
A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) do Recife realiza ações frequentes para o reparo de obras públicas na cidade, através de vistorias e informações repassadas pela população por meio do número 156.
A maioria das ocorrências é nos bairros mais populosos, nos prédios públicos e locais históricos, além de pontes e viadutos. No caso das pichações vistas na avenida João de Barros, as características são semelhantes. Aparentemente, elas parecem assinaturas ilegíveis. A maioria é pintada com spray da cor vermelha, preta e azul.
Arthur Mota/Folha de Pernambuco
As paredes da avenida João de Barros, área central, serviram de “tela”
Na tentativa de coibir essas ações criminosas, a Prefeitura do Recife instalou 100 câmeras de monitoramento e pretende instalar mais 300 em pontos estratégicos da cidade. Só que apenas a colocação desses equipamentos não garante a limpeza dos muros, fachadas e monumentos. “Bem perto daqui tem uma câmera, mas nem por isso deixaram de pichar minha parede”, disse Diogo de Oliveira.
De acordo com o professor de Sociologia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Nadilson Silva, um dos objetivos das pichações é demarcar território. “Isso desenvolve uma rivalidade entre os praticantes dessa forma de expressão. Quanto mais complicado for o local pichado, mas notoriedade se adquire. Por isso escolhem pontes, prédios altos e monumentos históricos. Essa é uma maneira dessas pessoas se sentirem mais visíveis socialmente”, explicou.
Colorindo as fachadas através da grafitagem
André Nery/Folha de Pernambuco
Painéis ajudam a diminuir as ações dos pichadores
Para embelezar a cidade e prevenir a proliferação de pichações, desde o começo deste ano, a Secretaria de Turismo e Lazer do Recife desenvolve, em parceria com a ONG Cores do Amanhã, o projeto Colorindo o Recife.
A iniciativa prever a capacitação de jovens para a produção de grafite - arte de desenhar em muros, paredes e demais espaços onde for possível. Segundo a secretária-executiva de Turismo e Lazer, Ana Paula Vilaça, existem estudos que apontam a diminuição de pichações em locais grafitados. Além disso, os desenhos coloridos acabam se tornando pontos turísticos.
Os alunos do projeto Colorindo o Recife já fizeram oito painéis na Capital. Um deles está no asfalto da avenida Rio Branco, no Bairro do Recife. Também tem obras na rua dos Palmares, em Santo Amaro. “Disponibilizamos os muros públicos, as tintas, e a ONG os professores. Com isso, além da valorização da cidade, gerando atrativos turísticos, existe a conservação dos imóveis, que deixam de servir como tela de pichações, que desvalorizam os monumentos históricos. Sem falar que há a capacitação de jovens”, explicou Ana Paula Vilaça.
Para o sociólogo Nadilson Silva, o grafite surgiu a partir do momento que as pessoas perceberam que arte de rua é tão positiva quanto à dos museus. “Esses trabalhos então passaram a ser reconhecidos como arte e não como pichação, que muitas vezes são apenas riscos, assinaturas. O objetivo dos grafiteiros é deixar a cidade mais colorida, tornando a vida urbana mais atrativa. A ideia é criar uma forma de expressão artística e não de vandalismo”, explicou.
A próxima ação do Colorindo o Recife vai ser feita no túnel Josué de Castro, no bairro do Pina, na Zona Sul da Capital, em parceria com o Shopping Riomar. A produção dos desenhos está programada para o mês de novembro. “Nas áreas usadas como painéis diminuíram as pichações. O espaço ficou mais protegido. Nos lugares onde ainda não atuamos continuam pichando”, disse Ana Paula.
Diogo Mendes, da Folha de Pernambuco
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