terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Mesmo em recesso, suplentes de deputados de Pernambuco consumiram R$ 135 mil em um mês

Em um mês sem sessões no Plenário da Câmara, parlamentares assumem "mandatos-tampão" com direito a salários e cotas

Janeiro é o mês dedicado ao recesso dos deputados federais em Brasília. Nesse período, nenhuma matéria é aprovada e o trabalho é praticamente zero na Câmara. Mesmo assim, três parlamentares pernambucanos que assumiram a função como suplentes apenas durante o último mês custaram mais de R$ 135 mil aos cofres da União, entre salários e cotas para exercício de suas atividades. E esse valor ainda pode aumentar. 

Os deputados Osvaldo Coelho (DEM), Bruno Rodrigues (PSDB) e Severino Ninho (PSB) substituíram Raul Henry (PMDB), André de Paula (PSD) e Danilo Cabral (PSB), respectivamente. Esses últimos assumiram postos no governo do estado. Alguns dos suplentes argumentaram que, mesmo sem sessões, realizaram trabalhos importantes para as regiões que representam, o que, segundo eles, justificaria os custos.

Coelho, com quase 50 anos de vida parlamentar, foi quem mais gastou. De acordo com o portal da Câmara Federal, até a última quinta-feira o representante de Petrolina havia comprovado, através de notas fiscais, R$ 16.621,16 em gastos. Somado aos R$ 3,6 mil de auxílio-moradia, chegam a R$ 20 mil apenas com a cota. Com o salário de R$ 33,7 mil, o deputado custou R$ 53,7 mil até este fim de semana. Eles têm até 90 dias após o fim do mandato para comprovar os gastos e serem reembolsados.

O político sertanejo de 84 anos - que acabou ganhando a vaga com a desistência do primeiro suplente de sua coligação, Edgar Moury (PSB) - disse que durante o período em questão ficou pelo menos três semanas em Brasília e outra semana em Petrolina.  “Estive trabalhando no gabinete e busquei trazer à tona assuntos de importância para a região, como o aproveitamento da mão de obra dos colonos e dos agrônomos da área para os projetos de agricultura irrigada. Cobrei, por exemplo, do Ministério da Pesca, que olhe para a região do São Francisco. Toda verba é direcionada para o Sul e Sudeste. Aqui nunca chegou um anzol”, reclamou.

Apesar de afirmar que esteve a maior parte do tempo entre Brasília e Petrolina, há nas notas de Coelho R$ 4.482 de gastos com combustível, quase o teto permitido, que é de R$ 4,5 mil. Em apenas um dos comprovantes, de um posto do Recife, no valor de R$ 1.334,59, há o registro da compra de 448,6 litros de combustível. Isso possibilitaria, por exemplo, praticamente encher o tanque de dez Palios Fire Economy 1.0, que comportam 48 litros cada. Em um cálculo rápido, a verba total com gasolina permitiria, com o mesmo veículo, fazer cinco vezes o trajeto entre o Recife e Buenos Aires, capital da Argentina, de pouco mais de 4,8 mil km.

Cobranças
O ex-prefeito de Igarassu, Severino Ninho, que esteve na Câmara entre outubro de 2011 e abril de 2014, também disse ter trabalhado para levantar temas importantes para o desenvolvimento do Litoral Norte do estado. “Estive em Brasília apenas uma vez para acompanhar projetos que estão tramitando desde a época em que assumi em 2011. Aproveitei para cobrar para o governador Paulo Câmara a conclusão da UPA especialidade e do terminal de Abreu e Lima”.
O curioso nas comprovações do socialista é que nenhuma nota é apresentada, sob o argumento de que o gabinete parlamentar declarou que os comprovantes continham informações relativas à intimidade, vida privada, honra ou imagem de pessoa física, nos termos do artigo 27 do ato da mesa nº 45/2012. O Diario solicitou à Câmara os dados, mas o período da contestação é de 20 dias. 

Já Bruno Rodrigues (PSDB) foi o mais “comedido” até então. Nas notas de comprovação de sua cota parlamentar estão R$ 2.342,06 em gastos diversos. O interessante é que praticamente metade desse dinheiro, R$ 1.031,78 foi para a alimentação. Com 13 notas apresentadas, o valor médio de cada almoço ou jantar do parlamentar ficou em R$ 79,36. A reportagem tentou localizar o deputado por telefone, mas não obteve sucesso.
Saiba mais

Cotas para Exercício da Atividade Parlamentar dos três deputados

R$ 33,7 mil é o valor do novo salário dos deputados aprovado no fim do ano passado

O Valor da cota parlamentar varia de R$ 27,9 mil a R$ 41,6 mil de acordo com o estado.

R$ 37,9 mil é a cota destinada aos parlamentares de Pernambuco

O prazo para prestação de contas é de 90 dias após a data de utilização do serviço prestado

Prestação de conta dos deputados até o dia 5 de fevereiro

Osvaldo Coelho (DEM)

Combustíveis e lubrificantes R$ 4.482,59
Passagens aéreas R$ 5.317,14
Alimentação R$ 699,40
Manutenção de escritório R$ 230,08
Serviços postais R$ 178,39
Telefonia R$ 560,15
Auxílio-moradia R$ 3.673,33

Total R$ 20.194,49

Severino Ninho (PSB)

Combustíveis e lubrificantes R$ 1.013,56
Alimentação R$ 378,96
Locação de veículos R$ 4.000,00
Manutenção de escritório R$ 6.000,00
Serviços postais R$ 222,80
Telefonia R$ 815,94

Total R$ 12.431,26

Bruno Rodrigues (PSDB)

Combustíveis e lubrificantes R$ 867,79
Alimentação R$ 1.031,78
Serviços postais R$ 85,58
Telefonia R$ 356,91

Total R$ 2.342,06

- Somente com a nota apresentada pelo deputado Osvaldo Coelho no valor de R$ 1,339,54, correspondente a 448,60 litros de combustível, seria possível encher o tanque de aproximadamente dez Palios Fire Economy 1.0, que tem um tanque de 48 litros

- Com os valores somados apenas para despesas com combustível (R$ 4.482,59) do deputado Osvaldo Coelho, um carro do mesmo modelo seria capaz de fazer cinco vezes o trajeto Recife - Buenos Aires (Argentina), de aproximadamente 4.819 km

1.551 litros de combustível poderiam ter sido comprados com a verba, levando em consideração (para efeito de cálculo) o preço médio de R$ 2,89 da gasolna aplicado durante o mês de janeiro nos postos do estado

- Nenhuma das notas do deputado Severino Ninho foi publicada no site da Câmara, sob o argumento de que o gabinete declarou que as informações contém informações relativas à intimidade, vida privada, honra ou imagem de pessoa física, nos termos do artigo 27, § 1º, incisos I e IV da mesa nº 45/2012, ou dados protegidos por sigilo bancário ou telefônico

- O Diario solicitou as informações à Câmara, mas o prazo dado para a resposta é de 20 dias

- O maior gasto do deputado Bruno Rodrigues foi com alimentação. Os R$ 1.031,78 divididos pelos 21 dias úteis do mês de janeiro, equivalem a refeições médias de R$ 49,13. No entanto, apenas 13 notas constam na prestação, o que eleva a média para R$ 79,36. A maior delas é de R$ 183,38, de um almoço em um dos restaurantes mais nobres de Boa Viagem

Nenhum comentário: