sábado, 11 de abril de 2015

ARTIGO - Suficiente livre para concordar ou discordar -

Por Givaldo Calado de Freitas
Ainda não era eleitor. Mas participei, ativamente, ao lado de tantos colegiais da época, eleitores e não eleitores, como eu, da campanha de 18 de agosto de 1963.
Isso já nos remete ao “Mercado 18 de Agosto”, inspiração de Amílcar da Mota Valença nas suas andanças pelos Estados Unidos da América, trazida para a então província de Garanhuns.
Naquelas eleições ele se insurgia contra aqueles que se julgavam “donos” da cidade: prefeito, governador, presidente e deputados. Só daqui - três. De fora - incontáveis. “Vamos pra Garanhuns derrotar aquele matuto insurgente” - diziam. Resultado, por ter traduzido os anseios da população “matuta” da cidade, tornou-se o seu prefeito contra todo aquele leque de arrogância. Verdadeira máquina. Que queria machucar. Humilhar. Subjugar. Maltratar os homens e mulheres de bem de Garanhuns. A vitória do povo, no entanto, foi arrasadora. A derrota dos poderosos da época - acachapante.
Em 15 de Novembro de 1968, a vitória foi mais contundente ainda. Até pelas circunstâncias da época. Os generais não aceitavam o candidato lançado e apoiado por Amílcar da Mota Valença. Mas ele e o povo de Garanhuns fizeram o seu prefeito - Luiz Souto Dourado. Que era candidato pelo MDB. Portanto, da oposição aos governos do estado e da união. Luiz Souto Dourado tinha um grande defeito, diziam: havia sido Secretário da Justiça do estadista Miguel Arraes Alencar. Quem sabe se, por isso, os generais não o queriam. Não o credenciavam para ser o nosso prefeito.
Em 15 de Novembro de 1972, muito mais pelos seus atos de bravura, de coragem e de independência politica, do que pela sua obra, realizada no seu primeiro mandato, e tão conhecida do povo, Amílcar da Mota Valença é eleito prefeito de Garanhuns pela segunda vez, quem sabe se, também, porque como Mahatma Gandhi, ele tinha princípios em política, e porque teria tentado durante toda a sua vida, identificar-se com os mais pobres e oprimidos, letrados e iletrados da sua cidade.
Em 15 de Novembro de 1976, ocorre quase uma repetição do que ocorrera em 1963 e em 1968. Amílcar da Mota Valença teve que repetir os seus gestos do passado e, de novo, com bravura, coragem e independência, contra um sistema organizado e orquestrado, elege como seu sucessor, um amigo, para quem, um dia, dera a palavra - Ivo Tinô do Amaral. Justamente ele que, como Amílcar, enfrentou o episódio histórico de 1963. Com isso, ratifica o seu respeito aos princípios de palavra e da honradez na política.
Para as eleições de 2012, Amílcar da Mota Valença, como o povo de Garanhuns, também disse “não” àqueles que quiseram humilhar, subestimar e subjugar a nossa cidade.
Esses episódios da vida de Amílcar da Mota Valença o engrandeceram e me orgulham. Foram episódios maiores que, certamente, anularam episódios menores da sua vida.
Quero, aqui, dizer com minhas filhas, suas netas, Germana e Giovanna: “Que Deus o Abençoe! Foram 98 anos vividos intensamente! Olharemos para o céu à sua procura com a certeza de que iremos encontrar uma estrela sorrindo ao lado da vovó Dora. Vá em paz!”.
Aqui ficamos todos, juntos e unidos como uma grande família, que jamais conhecerá capitulação à prepotência, mas que se curvará aos gestos sinceros, daqueles que nos permitam continuar fazendo e agindo em defesa de nossa cidade.
A tudo isso assisti, de perto. La atrás, como simples colegial, sequer eleitor - já o disse. Mais adiante, como eleitor. Militante politico. E, por cima, seu genro, que trazia como traz, ainda, a ideia de que se deve ser, suficientemente, livre para discordar e concordar. A ideia de que politica se faz conversando. Respeitando o contraditório. E tendo a felicidade de, um dia, um sonho lá do passado, fruto de muitas lutas e pedidos, ser realizado, como essa estrada que une a sede do município de Garanhuns ao distrito de São Pedro.
A todos que, como ele, estiveram nessa trincheira - e foram tantos - em defesa dessa estrada, o nosso muito obrigado por não terem esmorecido nessa longa caminhada, que comina, agora, com a entrega oficial dessa obra que leva o nome de Rodovia Amílcar da Mota Valença, iniciativa da então deputada Laura da Mota Valença Gomes.

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