sábado, 14 de setembro de 2024

"NÃO ADIANTA ARMAR A GUARDA MUNICIPAL, SE NÃO VALORIZAR" DIZ DANI PORTELA

A candidata à prefeitura do Recife, Dani Portela, da coligação “Recife com a Cara da Gente”, participou de uma sabatina no canal do YouTube “Fala Ordinário” na tarde desta sexta-feira, 13, abordando uma série de questões que considera cruciais para o futuro da capital pernambucana. Logo no início da entrevista, Dani trouxe à tona o tema da representatividade feminina, destacando que, em cinco séculos de história, Recife jamais teve uma mulher à frente da gestão municipal, apesar de as mulheres serem a maioria da população e do eleitorado. A candidata enfatizou que sua trajetória política é profundamente marcada por movimentos sociais, feministas e negros, reforçando que suas propostas de governo têm como pilares essas causas, além de questões como segurança pública e educação.

Dani Portela pontuou que a geração de emprego e renda precisa ser priorizada como forma de reduzir as desigualdades estruturais da cidade, especialmente aquelas que afetam diretamente mulheres, negros e as classes mais baixas. Segundo a candidata, Recife enfrenta um dos piores índices de desemprego do Brasil, com jovens entre 16 e 24 anos e mães de família fora do mercado de trabalho. Essas mulheres, argumenta Dani, muitas vezes não conseguem retomar os estudos ou buscar novas oportunidades de emprego pela ausência de creches que acolham seus filhos, uma situação que, para ela, impede o desenvolvimento social dessas cidadãs e perpetua um ciclo de exclusão. A ampliação de vagas em creches e a oferta de cursos de profissionalização focados nas periferias da cidade, com ênfase em áreas de inovação e tecnologia, foram algumas das soluções que Dani destacou para enfrentar esse cenário.

No tocante à segurança pública, a candidata fez questão de esclarecer que as funções da Polícia Federal, da Polícia Militar e da Polícia Civil, responsáveis pelas operações de segurança ostensiva e investigativa, pertencem ao Estado, enquanto a Guarda Municipal do Recife tem como principal responsabilidade a proteção do patrimônio público. Dani lamentou que muitas vezes haja uma confusão por parte da população, que, ao ver agentes fardados, acredita que todos estão desempenhando funções policiais. Contudo, ela reconheceu o papel crucial da Guarda, mencionando o trabalho da Patrulha Maria da Penha, uma iniciativa específica que visa atender mulheres em situação de violência doméstica e familiar, cujas demandas têm aumentado consideravelmente na cidade. A candidata defende que, antes de pensar em armar o efetivo da Guarda Municipal, como alguns de seus adversários sugerem, é necessário investir em políticas públicas que tratem a segurança de maneira preventiva, garantindo direitos e criando oportunidades.

Dani ainda comentou sobre o crescente debate em torno da proposta de armar parte da Guarda Municipal, que ela considera ser uma abordagem superficial da questão de segurança, frequentemente defendida por candidatos de centro, direita e extrema-direita. Para a candidata do PSOL/Rede, o discurso de que armas proporcionam proteção é equivocado e militarista, afastando-se das reais necessidades da população. Ela questionou o impacto dessa medida em uma cidade com mais de 1,6 milhão de habitantes, ressaltando que o efetivo atual da Guarda Municipal é de aproximadamente 1.600 agentes, dos quais apenas cerca de 500 atuam diretamente no trânsito e o restante na proteção do patrimônio. Além disso, apontou que os guardas municipais do Recife estão entre os que recebem os menores salários do país, com vencimentos que variam entre R$2.200 e R$2.400. Muitos desses profissionais, segundo Dani, precisam complementar a renda trabalhando em plantões, o que revela a necessidade urgente de valorizar esses trabalhadores, oferecendo melhores condições de trabalho e capacitação. 

A candidata criticou o que considera uma solução simplista para a segurança pública, frisando que "essa arma estará sempre apontada para a juventude, especialmente para a juventude negra das periferias". Para Dani, a violência estrutural que atinge essas comunidades é um reflexo direto de políticas públicas ineficazes, que falham em proporcionar alternativas reais e permanentes para a população marginalizada. Como exemplo, ela mencionou dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que indicam que, nos últimos dois anos, todas as mortes causadas por ações policiais em Recife envolveram pessoas negras. Dani acredita que uma abordagem mais eficaz para a segurança pública deve ser construída com base em ações preventivas, que contemplem a criação de oportunidades nas áreas periféricas da cidade, como educação, cultura, lazer e emprego, e não apenas na repressão.

Em suas propostas de governo, Dani Portela se compromete a implementar políticas que promovam a valorização dos profissionais da Guarda Municipal, com a criação de novos concursos públicos, a realização de capacitações constantes e a incorporação de benefícios salariais e previdenciários. Ela também defende o fortalecimento da Patrulha Maria da Penha, com a ampliação da frota e da equipe, para garantir que as mulheres vítimas de violência doméstica sejam atendidas com a celeridade e a dignidade que merecem.

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