A saída de Alexandre Schneider da Secretaria Estadual de Educação e Esportes abriu espaço para novas articulações políticas na gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB). Schneider, que deixou o comando da pasta para acompanhar o tratamento de saúde de sua esposa em São Paulo, foi substituído interinamente por Gilson Filho, atual secretário-executivo de Administração e Finanças. Gilson, um nome ligado às bases políticas de Raquel em Caruaru, deve permanecer à frente da secretaria pelo menos até o fim do recesso parlamentar. Nesse intervalo, a conjuntura política em Pernambuco parece caminhar para novos alinhamentos que podem redesenhar o tabuleiro das alianças estaduais.
Nos bastidores, o nome do deputado estadual João Paulo (PT) surge como um dos principais cotados para assumir a Educação. A possibilidade de o Partido dos Trabalhadores ocupar a pasta tem sido ventilada desde dezembro de 2024 e carrega consigo implicações que vão além da gestão administrativa. A eventual entrada de João Paulo consolidaria uma aproximação estratégica entre o PT e o governo estadual, numa movimentação que tem como pano de fundo as eleições presidenciais de 2026. Ainda assim, a definição depende de sinais mais concretos de que Raquel Lyra está disposta a receber o presidente Lula (PT) em seu palanque, movimento que exigiria sua migração para uma legenda da base do governo federal.
A equação política é complexa. O PT, liderado pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), protagonizada no estado por figuras como o senador Humberto Costa, o deputado federal Carlos Veras e os deputados estaduais petistas, busca ampliar sua influência em Pernambuco após sentir-se marginalizado em outras frentes. No Recife, por exemplo, a relação com o prefeito João Campos (PSB) tem se deteriorado desde que o socialista optou por não indicar um petista para sua chapa como vice-prefeito nas últimas eleições. Recentemente, a nomeação de Vinicius Castello para uma secretaria-executiva de Infraestrutura, sem consulta ao partido, aprofundou o descontentamento da CNB. A exclusão do PT do primeiro escalão da gestão de João Campos e os atritos decorrentes disso fomentaram conversas discretas, mas cada vez mais frequentes, entre petistas e aliados de Raquel Lyra.
Nesse contexto, a Secretaria de Educação é vista como um possível canal de diálogo e fortalecimento entre o PT e o governo estadual. A aproximação de João Paulo com Raquel Lyra teria, entre outros objetivos, o papel de fomentar o desgaste do PSB no estado, especialmente em meio às tensões entre as lideranças das duas siglas. Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, João Paulo já tem desempenhado um papel ativo ao insinuar a viabilidade de uma aliança mais ampla com a gestão estadual, um gesto que encontrou eco em outros membros do partido.
Enquanto o recesso parlamentar se desenrola, o senador Humberto Costa deve reunir-se com o presidente Lula para discutir os termos de uma possível parceria com a governadora. Nesse processo, a disposição de Raquel Lyra em ceder espaço ao PT e realinhar-se politicamente será fundamental para a concretização desse cenário. A entrada do partido na gestão estadual não apenas fortaleceria os laços com o governo federal, mas também representaria um movimento simbólico de ruptura com a hegemonia do PSB em Pernambuco.
Por trás dessas articulações, está a disputa por espaço político e pela definição das forças que estarão alinhadas nas eleições que se aproximam. Para Raquel Lyra, uma aliança com o PT pode ser tanto uma estratégia para garantir maior governabilidade quanto uma ponte para consolidar seu protagonismo nacional. Para o PT, o avanço sobre a Secretaria de Educação é mais do que um gesto pragmático; é uma tentativa de se posicionar como um contraponto relevante no cenário estadual, sinalizando sua capacidade de influenciar e redefinir as alianças regionais.
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