quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

LULA VETA PL QUE GARANTIRIA PENSÃO ESPECIAL A CRIANÇAS COM MICROCEFALIA

A aprovação do PL 6064/23, que previa a criação de uma pensão especial para crianças com microcefalia em decorrência da epidemia de zika vírus, trouxe uma breve esperança para milhares de famílias brasileiras, especialmente em estados como Pernambuco, epicentro do surto. A celebração na Câmara e no Senado pela aprovação do projeto foi marcante. Deputados, mães e o próprio presidente da Casa, Arthur Lira, demonstraram publicamente apoio à iniciativa que buscava assegurar dignidade a essas crianças e suas famílias. Contudo, a decisão do presidente Lula de vetar integralmente o projeto, substituindo-o por uma medida provisória que estabelece uma indenização única de R$ 60 mil, transformou a esperança em indignação.

O impacto da medida provisória é profundo e imediato. Germana Soares, líder da União de Mães de Anjos (UMA) e figura central na luta pelos direitos dessas crianças, classificou a decisão como "excludente e limitadora", um reflexo da decepção sentida pelas mais de 1.500 famílias que enfrentam cotidianamente as dificuldades impostas pela microcefalia. Para ela, o veto não apenas ignora as necessidades reais dessas crianças, que dependem de cuidados especializados e contínuos, mas também demonstra uma desconexão entre o discurso político e a realidade enfrentada por essas famílias.

A indignação não se limita à questão financeira. A MP é vista por Germana e por outras mães como uma tentativa de silenciamento, uma medida paliativa que não aborda as necessidades de longo prazo das crianças afetadas. A pensão especial proposta pelo Congresso representava mais do que um auxílio econômico; era um reconhecimento da complexidade da situação, uma tentativa de oferecer estabilidade e dignidade a famílias que há anos sobrevivem à margem. O benefício, que poderia alcançar até R$ 7 mil dependendo das condições específicas de cada criança, contrastava fortemente com o atual Benefício de Prestação Continuada (BPC), limitado a um salário mínimo.

A cena no Congresso durante as votações foi emblemática. Crianças alimentadas por sonda, carregando as marcas da epidemia, foram levadas ao plenário por suas mães, um apelo visual e emocional que buscava sensibilizar parlamentares e a sociedade. A aprovação do projeto parecia indicar que o apelo havia sido ouvido. Porém, a publicação do veto e da medida provisória no Diário Oficial da União trouxe à tona a frustração coletiva. Para Germana, o Governo, que se apresentou como defensor das mulheres, das crianças com deficiência e das mães-solo, falhou em oferecer diálogo e soluções concretas. 

A luta, entretanto, está longe de terminar. Germana e outras lideranças já sinalizaram que buscarão a derrubada do veto. Para elas, o valor da indenização não é apenas insuficiente, mas também uma tentativa de encerrar a discussão sobre um tema que exige atenção constante. "Acham que R$ 60 mil vão nos calar? É muita soberba", desabafa Germana. A resistência dessas mães, alimentada pela indignação e pela determinação de garantir um futuro melhor para seus filhos, promete manter o tema em evidência, desafiando o Governo e o Congresso a reverem suas posições.

A epidemia de zika vírus, que colocou o Brasil no centro das atenções globais em 2015, deixou cicatrizes profundas em milhares de famílias. Pernambuco, que registrou mais de 500 casos no auge do surto, tornou-se símbolo dessa tragédia, atraindo até mesmo uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, o estado carrega não apenas o peso do passado, mas também a responsabilidade de liderar uma luta que transcende fronteiras, unindo mães em todo o país em busca de justiça e reconhecimento.

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