As águas do Rio Tocantins guardam histórias que se desdobram em camadas de dor, esforço e esperança desde o fatídico dia 22 de dezembro de 2024, quando a Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira desabou, tragando vidas e espalhando incertezas na divisa entre Maranhão e Tocantins. O cenário que antes conectava estados, pessoas e destinos foi tomado por uma operação de busca e resgate que não cessa, mesmo diante dos desafios impostos pela força da natureza e pelo tempo.
Nesta quinta-feira, a Marinha do Brasil retorna às águas profundas do Tocantins, orientada pela correnteza que segue rio abaixo, em busca das três pessoas que ainda não foram encontradas. Salmon Alves Santos, de 65 anos, seu neto Felipe Giuvannuci Ribeiro, de apenas 10 anos, e Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos, permanecem desaparecidos, representando os fragmentos de vidas e laços interrompidos de maneira abrupta.
A retomada dos mergulhos só foi possível após um ajuste crítico nas operações da Usina Hidrelétrica de Estreito. Na noite da última terça-feira, o Consórcio Estreito Energia anunciou a possibilidade de conter a vazão das águas por mais alguns dias, criando condições seguras para novas incursões submersas. Uma pequena janela de oportunidade, que a Marinha aproveita com determinação, mas que exige reavaliação constante.
As chuvas intensas que assolam a região têm sido um adversário implacável. A força das águas impôs a necessidade de ajustes no posicionamento da Base Avançada de Mergulho, que precisou ser transferida para um local mais elevado após o risco iminente de alagamento. Ainda assim, a persistência das equipes é inabalável, um reflexo da promessa de não abandonar as famílias que aguardam respostas, por mais dolorosas que sejam.
Desde o colapso, um total de 14 pessoas já foram localizadas e identificadas, mas a memória daquele dia ainda ecoa com força entre os que presenciaram a tragédia. Veículos de passeio, motocicletas e caminhões despencaram junto com a estrutura da ponte, levando 18 pessoas ao destino incerto das águas. Os esforços de resgate começaram imediatamente, com embarcações que navegaram a correnteza em busca de sobreviventes e respostas.
A cada mergulho, a profundidade revela não apenas a força do rio, mas também a complexidade de um cenário onde a natureza, o tempo e a engenharia se encontram em confronto. A operação não é apenas técnica, mas carrega a sensibilidade necessária para lidar com perdas humanas. Os nomes e histórias dos desaparecidos são faróis para aqueles que continuam descendo ao fundo do rio, enquanto as famílias esperam, divididas entre a angústia e a esperança.
O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira não se limita a um evento físico; ele é um marco de fragilidade e resiliência. As águas que engoliram a estrutura agora testam os limites do esforço humano para recuperar aquilo que pode ser resgatado, enquanto comunidades inteiras se reconstroem em torno de uma tragédia que jamais será esquecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário