quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Na Lupa, Quinta, 09/01/2025, Blog do Edney

NA LUPA 🔎 
BLOG DO EDNEY 


Por Edney Souto


O ADEUS ANUNCIADO DE JOSÉ MÚCIO, O PESO DE UMA GRANDE LIDERANÇA QUE SE DESPEDE DA BASE DO GOVERNO LULA 

A saída de José Múcio Monteiro do Ministério da Defesa, prestes a ser confirmada, coloca o Governo Lula diante de um cenário de instabilidade estratégica. Aos 76 anos, o pernambucano, que já ocupou posições de destaque como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e deputado federal, vinha sinalizando sua intenção de deixar o cargo desde o final do ano passado. Sua decisão, no entanto, ecoa muito além de uma simples troca de comando: marca o fim de uma era de equilíbrio em um dos períodos mais tensos da política nacional.  

Múcio desempenhou um papel singular em momentos cruciais para a democracia brasileira. Durante a transição do governo Bolsonaro para o governo Lula, coube a ele a missão de estabelecer pontes entre as Forças Armadas e o novo comando do Executivo. Com habilidade ímpar, antecipou a nomeação do alto comando militar, apaziguou ânimos e evitou maiores rupturas institucionais. No entanto, essa postura de mediação constante veio com um custo pessoal elevado, e o ministro agora considera que sua contribuição ao país chegou ao limite.  

José Múcio: o ministro do equilíbrio e seu legado incontestável

Conhecido por sua habilidade conciliadora, José Múcio foi mais do que um simples ministro da Defesa: foi o alicerce que sustentou um diálogo frágil entre as Forças Armadas e um governo eleito em meio a uma polarização extrema. Sua atuação ficou marcada pela pacificação de crises e pela articulação silenciosa que evitou conflitos abertos, tanto com os militares quanto com setores do próprio governo.  

Ao longo de sua gestão, Múcio enfrentou desafios imensos, como a contenção dos resquícios bolsonaristas dentro das Forças Armadas e a resposta institucional aos ataques de 8 de janeiro. Nessa data, seu papel foi fundamental para garantir que a cadeia de comando militar permanecesse alinhada à ordem democrática, evitando que os episódios golpistas tivessem consequências ainda mais graves.  

Apesar de seu sucesso, a pressão vinda de todos os lados – militares descontentes, opositores políticos e até mesmo radicais dentro da base governista – tornaram seu trabalho um exercício diário de resistência. Agora, ele opta por se despedir enquanto mantém intacta sua reputação de liderança moderada e respeitada.  

Os desafios para encontrar um substituto à altura 

A saída de Múcio deixa uma lacuna que o presidente Lula terá dificuldade em preencher. Quatro nomes estão sendo analisados para sucedê-lo, mas nenhum deles reúne, até o momento, todas as qualidades que o pernambucano trouxe ao cargo. Entre os cotados estão:  

- Alexandre Padilha: ministro das Relações Institucionais e homem de confiança de Lula, conhecido por sua habilidade política e articulação. 
 
- Geraldo Alckmin: vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, cuja experiência administrativa e pragmatismo são amplamente reconhecidos.  

- Ricardo Lewandowski: ministro da Justiça, com trajetória marcante no Judiciário e capacidade de lidar com temas sensíveis.  

- Jaques Wagner: senador e ex-ministro da Defesa, com experiência prévia que o torna um nome natural para a sucessão.  

Cada uma dessas opções apresenta vantagens, mas nenhuma parece replicar o papel de conciliador que José Múcio desempenhou com maestria.  

O impacto no Governo Lula e nas Forças Armadas 

A iminente saída de Múcio ocorre em um momento delicado para o Governo Lula. A relação entre o Executivo e as Forças Armadas ainda requer ajustes finos, e a ausência de uma figura com trânsito fácil em ambos os mundos pode acirrar tensões.  

Os comandantes das três forças – Exército, Marinha e Aeronáutica – reconhecem a importância do papel desempenhado por Múcio e prefeririam vê-lo permanecer no cargo. Contudo, suas preferências em relação ao sucessor variam. Alexandre Padilha é visto como a opção mais alinhada aos interesses do presidente, enquanto Jaques Wagner traz a experiência necessária para lidar com a complexidade da pasta.  

Para Lula, a escolha será determinante não apenas para garantir a estabilidade interna, mas também para reforçar sua imagem de liderança em um governo que enfrenta dificuldades para se consolidar politicamente.  

Uma despedida simbólica em um momento histórico

A saída de José Múcio coincide com a proximidade de duas datas emblemáticas para a democracia brasileira: o aniversário de um ano dos ataques de 8 de janeiro e os 40 anos da eleição de Tancredo Neves, que marcou o início da redemocratização no Brasil. Esses marcos históricos reforçam a importância de lideranças comprometidas com o fortalecimento das instituições democráticas – um papel que Múcio desempenhou com brilhantismo ao longo de sua carreira.  

Com sua decisão de deixar o governo, o pernambucano encerra um ciclo que será lembrado pela moderação e pelo compromisso com a estabilidade. Sua ausência, contudo, deixa o governo em uma posição vulnerável, especialmente em um cenário político marcado por polarizações e incertezas.  

O fim de um ciclo e os próximos capítulos

José Múcio Monteiro sai do Ministério da Defesa com a tranquilidade de quem cumpriu sua missão, mas também com a consciência de que sua saída representa um desafio significativo para o governo que deixa para trás. O presidente Lula, agora, precisa não apenas escolher um sucessor, mas também assegurar que essa transição não abale a confiança construída com as Forças Armadas e a sociedade civil.  

Enquanto o Brasil se prepara para os próximos capítulos de sua história política, a ausência de Múcio será sentida como um vazio difícil de preencher. Sua liderança, marcada pela sabedoria e pelo equilíbrio, será lembrada como um dos pilares que sustentaram a democracia em tempos de crise.  É isso!

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