As chuvas que caíram sobre o Recife nos últimos dias trouxeram de volta uma lembrança amarga: a cidade, que já enfrentou tragédias em outros momentos, volta a sofrer com alagamentos, deslizamentos e os impactos diretos na vida da população. A gestão de João Campos, que já foi uma vitrine de eficiência e modernidade para o PSB, agora se vê em uma posição desconfortável, onde as cobranças são inevitáveis. O prefeito, que se projetava nacionalmente como um gestor eficiente e inovador, precisa lidar com as consequências de uma cidade que, mesmo após bilhões de reais em investimentos, ainda sente os mesmos efeitos das fortes chuvas.
No primeiro mandato de João Campos, Recife viveu uma das maiores tragédias de sua história recente. Em 2022, dezenas de pessoas perderam a vida em deslizamentos e inundações, milhares de famílias ficaram desabrigadas, e a destruição atingiu diversas áreas da cidade. O impacto foi tão grande que o tema foi debatido em Brasília, tanto pela ex-deputada Marília Arraes quanto pela deputada federal Maria Arraes, que voltou a trazer a questão à tona em 2024. O assunto sempre retorna porque, mesmo com investimentos vultosos, a realidade pouco mudou para quem vive nas áreas de risco.
A gestão de João Campos tem recebido recursos expressivos para obras de contenção de encostas, drenagem, dragagem de canais e outras intervenções que poderiam mitigar os danos causados pelas chuvas. Após a posse do presidente Lula, os repasses aumentaram e foram firmados novos empréstimos, elevando a dívida do Recife a patamares bilionários. Em abril de 2023, a Prefeitura obteve do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) empréstimos que totalizaram US$ 364 milhões, o equivalente a cerca de 2 bilhões de reais. O tempo passou e os problemas persistem, colocando a gestão do prefeito sob um escrutínio ainda maior. As cobranças agora não vêm apenas dos moradores atingidos, mas de setores políticos e da sociedade civil que esperam ver o resultado concreto dos investimentos anunciados.
O impacto das chuvas não se restringe ao Recife. Outras cidades da Região Metropolitana também enfrentam dificuldades, como Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Camaragibe e Itapissuma. No entanto, por ser a capital e devido à possível candidatura de João Campos ao governo do Estado, os olhos se voltam para sua administração. O Recife, que já esteve no centro das decisões políticas de Pernambuco, volta a ser um termômetro da gestão socialista e do que pode vir a ser um futuro projeto estadual do PSB. Os problemas enfrentados pela cidade podem se tornar um obstáculo para essa construção, ainda mais com a proximidade das festividades de carnaval, quando a imagem do Recife se projeta nacionalmente.
No início do ano, vereadores da oposição alertaram para o risco de que as áreas mais vulneráveis ao impacto das chuvas não estavam recebendo a devida atenção da Prefeitura. Em janeiro, foram feitas cobranças públicas para que medidas preventivas fossem tomadas. A resposta do governo municipal, no entanto, foi ignorar os alertas, minimizando as críticas por virem de parlamentares que não integram a base aliada. O resultado foi sentido agora, com ruas alagadas, morros instáveis e famílias desesperadas em busca de abrigo. As previsões meteorológicas indicavam volumes expressivos de chuva, mas a reação da gestão foi tardia, e as consequências se tornaram inevitáveis.
A relação do prefeito João Campos com a oposição tem sido marcada por episódios que levantam questionamentos sobre sua postura política. Na abertura dos trabalhos legislativos da Câmara Municipal, o prefeito deixou o plenário enquanto vereadores oposicionistas discursavam. A cena chamou atenção e reforçou a impressão de que João evita o contraditório e se fecha para o diálogo quando não lhe convém. Em uma cidade que enfrenta desafios estruturais tão complexos, essa postura levanta dúvidas sobre como os problemas podem ser solucionados sem a construção de um debate amplo e democrático.
As fortes chuvas não apenas testam a infraestrutura do Recife, mas também a capacidade de resposta da gestão municipal. A cidade já sofreu demais com tragédias passadas e, com os investimentos que foram anunciados, a expectativa da população era ver melhorias reais. No entanto, a realidade mostra que os desafios continuam os mesmos, e agora as cobranças recaem diretamente sobre João Campos, que tem diante de si o desafio de provar que sua administração está à altura do que foi prometido.
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