O prefeito de Vitória de Santo Antão, Paulo Roberto (MDB), tem movimentado intensamente os bastidores políticos do município e do estado de Pernambuco, num ritmo que já causa desconforto até entre os aliados mais antigos. Sua crescente ambição, alimentada pela ascensão política da filha, a deputada federal Iza Arruda, tem se transformado em um projeto mais amplo, que ultrapassa os limites do município e mira espaço no cenário estadual. Essa expansão tem sido marcada por movimentos calculados e, ao mesmo tempo, arriscados, que evidenciam uma estratégia voltada para a formação de uma dinastia familiar com forte presença nos poderes legislativo e executivo. Ao mesmo tempo em que busca consolidar sua liderança como gestor municipal, Paulo Roberto vem costurando articulações que indicam pretensões de ocupar, futuramente, uma vaga ao Senado ou até mesmo na chapa de vice-governador em 2026, o que tem gerado ruídos dentro do próprio MDB, especialmente entre figuras como o ex-deputado Raul Henry, com quem já teve embates internos.
A sinalização mais clara desse plano de poder familiar veio com a pré-candidatura do filho mais novo, Túlio Arruda, atualmente secretário na gestão da Prefeitura do Recife. O nome de Túlio está sendo trabalhado para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco, tendo como base principal justamente a cidade de Vitória, que o pai governa. A movimentação provocou reações imediatas, sobretudo do deputado estadual Joaquim Lira, aliado tradicional do grupo, que viu na pré-candidatura de Túlio uma ameaça direta à sua permanência na Assembleia. Joaquim, então, reagiu com uma jogada política de forte simbolismo ao iniciar articulações para que o pai, Elias Lira — ex-prefeito e figura histórica da política local — retorne ao cenário como candidato a deputado federal. A manobra tem duplo objetivo: preservar o espaço político da família Lira e demonstrar que Paulo Roberto não terá caminho livre para consolidar seu projeto.
O clima entre os antigos aliados azedou, e o que antes era uma aliança consolidada em torno de interesses comuns para o desenvolvimento de Vitória, transformou-se em um campo de disputas silenciosas e traições veladas. O centralismo de Paulo Roberto na condução política do município, aliado à disposição de atropelar acordos e decisões coletivas, tem causado desconforto até entre membros de sua própria base, que começam a questionar os limites do protagonismo do prefeito. A imposição de candidaturas familiares sem diálogo ampliado, a tentativa de controlar os rumos do MDB local e o distanciamento de lideranças tradicionais indicam que o projeto de poder está sendo conduzido com pouca abertura ao contraditório. Nos bastidores, é crescente o número de lideranças que demonstram insatisfação com os rumos da gestão e com o excesso de personalismo do prefeito, cujo foco parece estar mais voltado à construção de um legado político-familiar do que à manutenção de uma base sólida e fiel.
Essa mudança de postura — de articulador habilidoso a líder autoritário — começa a comprometer a imagem de Paulo Roberto fora de Vitória. Em partidos da base governista estadual e entre prefeitos da região, há a percepção de que ele deixou de agir como parceiro confiável para se tornar uma peça incômoda em disputas por espaço e poder. O que se vê, cada vez mais, é um isolamento progressivo do gestor vitoriense, que corre o risco de perder apoios importantes caso insista em um caminho de imposição e fechamento. O cenário, que parecia favorável após a eleição de Iza Arruda, começa a se mostrar instável diante de uma estratégia política que prioriza a expansão vertical da família em detrimento da construção horizontal de alianças.
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