Segundo o teor do ofício enviado pelo DER ao juiz eleitoral responsável pela zona 055, o trecho específico onde a pavimentação foi realizada já não integra mais a Rodovia PE-197, por conta do crescimento urbano da cidade. A via deixou de ser considerada uma estrada estadual e passou a ter função de avenida municipal, ou seja, está sob responsabilidade direta do Município de Pesqueira. Isso significa que o DER/PE não é responsável por sua manutenção e tampouco pela realização de obras no local. No entanto, apesar da mudança de competência, a prefeitura de Pesqueira ainda solicitou ao DER, em agosto de 2024 — portanto meses antes das eleições — uma manifestação sobre a possibilidade de realizar obras no trecho com recursos federais. O órgão estadual apenas respondeu que não havia objeção, tendo em vista que a área em questão pertence ao perímetro urbano da cidade e não configura mais rodovia estadual.
A resposta do DER desmonta uma das principais justificativas apresentadas por defensores da obra, que chegaram a afirmar que o asfaltamento tinha sido uma ação conjunta com o governo estadual, dentro de um suposto plano de revitalização da PE-197. A realidade, no entanto, é que o Estado não teve participação efetiva na obra e sequer deu autorização formal para que ela fosse feita. O que houve foi, apenas, uma resposta protocolar negando impedimento, sem qualquer envolvimento técnico ou financeiro. Ainda segundo o documento, o próprio DER esclareceu que a manifestação sobre não haver objeção à obra foi emitida ainda em agosto de 2024, ou seja, não tem relação com a execução repentina e apressada da pavimentação, feita às pressas, no dia anterior à eleição, o que reforça os indícios de uso político da máquina pública para tentar influenciar o resultado do pleito.
O ofício ainda detalha que toda a execução da obra foi feita sob responsabilidade da Prefeitura de Pesqueira, através de convênio com a CODEVASF, órgão federal frequentemente utilizado para destinar recursos a aliados políticos do governo de plantão. A pavimentação, segundo o documento, não teve qualquer acompanhamento técnico por parte do DER, o que lança dúvidas sobre a qualidade do serviço realizado, classificado por moradores como “asfalto meia boca” e que já apresentaria falhas estruturais em alguns trechos. Moradores da região apontaram que o asfalto, além de ter sido jogado às pressas e de forma superficial, não seguiu os padrões técnicos exigidos para vias urbanas com tráfego intenso, servindo apenas como ação de impacto visual a poucas horas da votação.
Um dia após a vitória apertada nas urnas, por uma margem mínima de votos, as máquinas utilizadas na pavimentação foram retiradas do local, sem que sequer 5% da obra prometida tivesse sido concluída. O asfalto mal compactado cobriu apenas um pequeno trecho da avenida, e moradores relatam que, desde então, nenhum operário ou equipamento retornou à Baixa Grande. A situação gerou revolta na comunidade, que se sente enganada e usada como peça de manobra política.
Diante das informações prestadas oficialmente pelo DER, o que se desenha é um possível caso de abuso de poder político e econômico por parte da atual gestão de Pesqueira, utilizando recursos públicos federais em benefício próprio, em plena véspera de eleição, com objetivos claramente eleitoreiros. O asfaltamento relâmpago, anunciado com estardalhaço nas redes sociais de apoiadores do governo municipal, agora aparece sob nova luz, como uma manobra que pode ter desrespeitado a legislação eleitoral e os princípios da impessoalidade e da moralidade na administração pública. O caso, agora sob avaliação da Justiça Eleitoral, poderá ter desdobramentos legais, especialmente se ficar comprovado que a ação interferiu no equilíbrio do processo eleitoral.
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