O silêncio doloroso tomou conta do Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife, na manhã desta segunda-feira (14), quando o pequeno caixão branco de Helen Santos de Souza foi enterrado sob aplausos, lágrimas e gritos de indignação. Aos quatro anos, a menina teve a vida interrompida por uma bala perdida durante uma troca de tiros entre grupos rivais, em plena véspera do seu aniversário. A tragédia aconteceu no Córrego do Deodato, comunidade da Zona Norte da capital pernambucana, e marcou de forma irreversível a história de uma família que sonhava apenas com uma festa simples, cheia de cores e sorrisos. Helen passeava com uma parente no momento em que homens encapuzados invadiram a rua e dispararam diversas vezes em direção a dois alvos que estavam num bar. Os tiros, segundo parentes, partiram de criminosos que desceram do Alto do Pascoal, supostamente integrantes de uma facção envolvida com o tráfico de drogas. Os alvos seriam membros de um grupo rival, e a menina acabou atingida durante o tiroteio que tomou a comunidade de surpresa. A mãe de Helen, que preferiu não ser identificada, contou que estava em casa organizando os últimos detalhes da festa quando ouviu os gritos: “Foi Helen, foi Helen”. Ela correu para fora, mas a criança já havia sido socorrida por vizinhos e levada em uma moto até o Hospital da Restauração. Atingida na cabeça, Helen foi internada em estado gravíssimo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu.
Morreu no domingo (13), justamente no dia em que completaria quatro anos. O bolo que havia sido encomendado jamais foi cortado. As bexigas coloridas que enfeitariam o quintal não foram penduradas. A festa deu lugar ao luto, ao desespero e à revolta. No velório, a mãe se agarrava ao caixão da filha enquanto dizia que a menina era tudo em sua vida, sua sombra, sua companhia inseparável. Parentes, amigos e vizinhos exigiam justiça e segurança. Em nota oficial, a Polícia Civil de Pernambuco informou que a 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios (DPH) está à frente das investigações e que diligências já estão sendo realizadas para identificar os autores do crime. Por enquanto, no entanto, nenhum suspeito foi preso, e as autoridades evitam divulgar mais detalhes para não comprometer as apurações. Enquanto isso, dados do Instituto Fogo Cruzado, especializado em monitorar a violência armada, apontam que Helen é a sexta criança baleada na Região Metropolitana do Recife desde o início deste ano. O número choca, mas evidencia uma realidade cruel: os tiros não escolhem alvos, e o risco está presente até nas rotinas mais simples das comunidades periféricas. A morte de Helen gerou mobilização de organizações civis. O Fórum Popular de Segurança Pública de Pernambuco se manifestou nas redes sociais afirmando que é preciso romper com a naturalização da violência e cobrar medidas estruturantes do poder público. Em sua nota, o Fórum enfatizou que segurança é um direito constitucional e que a discussão sobre políticas públicas deve considerar as desigualdades de raça, gênero e classe que estruturam o sistema social. Para os familiares da menina, no entanto, o que fica agora é um vazio impossível de preencher e a dor de saber que a filha não foi vítima de um destino, mas de um sistema que falha todos os dias em proteger os seus.
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