O Partido Socialista Brasileiro (PSB) atravessa um momento delicado em Pernambuco, com um esfacelamento gradativo de suas fileiras que vem se acentuando desde as eleições municipais de 2024. O mais recente movimento nesse processo foi a saída do prefeito de Água Preta, Miruca, que anunciou sua desfiliação da legenda. A decisão não pegou ninguém de surpresa no meio político, já que desde a campanha eleitoral do ano passado, as relações entre Miruca e a cúpula estadual do PSB estavam profundamente desgastadas. O prefeito, que tem uma longa trajetória dentro do partido, remontando à época de Miguel Arraes, foi alvo de uma série de tentativas do próprio PSB para inviabilizar sua candidatura. Em 2024, enquanto Miruca disputava a reeleição, a legenda ingressou com diversos recursos na Justiça Eleitoral buscando impedir que ele permanecesse como candidato, numa clara sinalização de que já não havia mais espaço para ele dentro do projeto socialista. A postura do partido só mudou quando o ex-deputado federal João Fernando Coutinho, que inicialmente seria o candidato do PSB em Água Preta, retirou sua pré-candidatura e declarou apoio ao prefeito, restando poucos dias para o pleito. Foi esse movimento que estancou a ofensiva judicial do partido, mas o recado estava dado: a permanência de Miruca era apenas uma solução temporária.
Agora, Miruca optou por trilhar um novo caminho político, ingressando no União Brasil Progressistas, a nova federação que une forças de centro-direita em Pernambuco. A articulação para essa mudança contou com a participação direta do prefeito de Palmares, Junior de Beto, e do deputado federal Eduardo da Fonte, que tem fortalecido seu capital político com a incorporação de prefeitos dissidentes do PSB. Miruca, ao se filiar, tornou-se o primeiro prefeito a aderir à federação recém-formada, um feito simbólico que reforça a estratégia de expansão do bloco. Junior de Beto, que tem pretensões de disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2026, vem desempenhando um papel-chave nessa articulação, atraindo gestores municipais que hoje se sentem órfãos dentro da estrutura do PSB.
Com a saída de Miruca, o PSB amarga mais uma baixa entre seus quadros executivos. Dos trinta e um prefeitos eleitos em 2024, apenas vinte e seis seguem na legenda. Além de Água Preta, também abandonaram o partido os gestores de Flores, Capoeiras, Frei Miguelinho e Lagoa Grande. Essa sangria revela uma insatisfação crescente, especialmente entre os prefeitos do interior, que se sentem preteridos pela executiva estadual. Miruca, ao oficializar sua desfiliação, também deixou claro que não pretende apoiar nenhum deputado federal do PSB nas eleições de 2026, mesmo diante da expectativa de que pudesse se alinhar a Pedro Campos. Em vez disso, o prefeito já anunciou seu apoio à reeleição de Lula da Fonte, consolidando seu novo alinhamento político.
Nos bastidores, outros prefeitos da legenda admitem em reserva que o desconforto é generalizado e que a tendência é de novas deserções. Um deles chegou a afirmar que, do jeito que o partido tem sido conduzido, "fica complicado permanecer no PSB". As queixas são direcionadas principalmente à condução política da legenda, que, segundo relatos, tem concentrado todas as atenções na gestão de João Campos, prefeito do Recife e principal nome do PSB no estado. Para esses gestores, há um abandono tácito por parte da cúpula estadual, que parece ignorar a realidade e as demandas dos prefeitos do interior, criando um ambiente fértil para a debandada. Eles afirmam que não é uma questão de cooptação por parte do Palácio, mas sim um reflexo da falta de diálogo e atenção da atual liderança socialista. Por trás dessa movimentação, vai se desenhando uma nova configuração no mapa político de Pernambuco, com o PSB encolhendo e forças como o União Brasil Progressistas ganhando musculatura a partir do descontentamento que hoje ecoa nos gabinetes das prefeituras interioranas.
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