Um passo importante em direção ao reconhecimento do trabalho invisível de milhares de brasileiros foi dado com a aprovação, na Comissão da Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei que cria o Programa Auxílio Cuidar Mais. De autoria do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), a proposta garante o pagamento mensal de R\$ 1.000 a cuidadores de pessoas com deficiência que são beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC), assistência social destinada a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade. A medida busca reconhecer o papel essencial desses responsáveis, que muitas vezes abdicam da própria vida profissional para se dedicar integralmente aos cuidados com familiares em condição de dependência.
A proposta surge como resposta a uma realidade marcada por esforço, renúncia e ausência de suporte do Estado. São mães, pais, irmãos e avós que assumem a responsabilidade de acompanhar cada necessidade diária de pessoas com deficiência, desde as tarefas mais básicas até o acompanhamento em tratamentos e reabilitações contínuas. A maioria desses cuidadores não possui vínculo formal de trabalho, vive sem acesso à previdência social e enfrenta dificuldades para garantir o sustento familiar. O projeto de Eduardo da Fonte busca mudar esse cenário, propondo não apenas um auxílio financeiro, mas o reconhecimento institucional de uma função social de alta relevância.
Segundo o texto aprovado na comissão, o Auxílio Cuidar Mais será destinado aos responsáveis legais por pessoas com deficiência já atendidas pelo BPC, e o valor será repassado mensalmente, sem prejuízo de outros benefícios sociais. A operacionalização do programa deverá ser feita por meio de cadastro e comprovação de vínculo do cuidador com o beneficiário. O parlamentar pernambucano defende que o projeto representa um avanço na política de cuidado, com impactos concretos na qualidade de vida de famílias que vivem em constante estado de alerta, privação e luta por dignidade.
O impacto social do projeto também atinge diretamente a população mais vulnerável, especialmente em regiões com baixa renda per capita. Em muitos lares, o cuidador abandona o emprego para prestar assistência, o que agrava a situação econômica da família. Com o novo auxílio, será possível ao menos minimizar os efeitos dessa desigualdade estrutural, garantindo uma renda mínima para quem cuida e promovendo maior estabilidade. O deputado Eduardo da Fonte, que tem atuado em pautas sociais de proteção à família e à inclusão, destacou que o programa é fruto de escuta da sociedade e articulação com entidades que atuam na defesa dos direitos das pessoas com deficiência.
A proposta agora segue para outras comissões e, posteriormente, ao plenário da Câmara, antes de ser analisada pelo Senado. O caminho até a sanção ainda exige articulação política e pressão social, mas a aprovação inicial já representa um marco simbólico importante. Ao propor uma remuneração para o cuidado familiar, o projeto também convida a sociedade a repensar a valorização do trabalho não remunerado, frequentemente associado a mulheres e grupos historicamente marginalizados. O Auxílio Cuidar Mais, nesse sentido, é uma iniciativa que aponta para uma política pública mais sensível, humana e alinhada com os desafios reais enfrentados por milhões de brasileiros invisibilizados pela rotina do cuidado doméstico.
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