O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, transformou um almoço com empresários promovido pelo grupo Lide, em São Paulo, nesta segunda-feira (5), em uma tribuna para um apelo enfático por mais recursos destinados às Forças Armadas brasileiras. Diante de uma plateia formada por grandes nomes do setor produtivo, convidados pelo ex-governador João Doria, Múcio não poupou palavras ao afirmar que o Brasil está ficando para trás na corrida por capacidade militar e segurança estratégica. Segundo o ministro, o país ocupa hoje uma posição desconfortável, sendo apenas o quinto colocado em toda a América do Sul no ranking proporcional de investimentos na Defesa, superado por nações vizinhas como Chile, Colômbia, Peru e Argentina. Em tom firme, mas sem perder a diplomacia que marca sua trajetória, Múcio chamou atenção para um dado que considera alarmante: “só dois países importantes não investiram em Defesa nesses últimos anos: o Irã e, por incrível que pareça, nós”. Essa comparação não foi feita ao acaso, servindo para provocar a elite empresarial sobre o risco que essa negligência pode representar para a soberania e a influência do Brasil no cenário internacional. O ministro lembrou que as Forças Armadas são não apenas um instrumento militar, mas também um pilar da estabilidade institucional e do desenvolvimento econômico, uma vez que a indústria da defesa gera empregos qualificados e impulsiona inovação tecnológica. Ao escolher um evento de perfil econômico para fazer essa defesa pública, Múcio sinaliza que a recomposição orçamentária do setor militar não será tratada apenas nos corredores do Congresso ou nos gabinetes do Planalto, mas será levada ao debate público, como parte da estratégia nacional. Em sua fala, ele evitou mencionar valores exatos, mas deixou claro que projetos estratégicos estão sendo comprometidos pela falta de recursos, citando de forma indireta programas como o desenvolvimento do submarino nuclear da Marinha, a modernização da frota aérea e a renovação da artilharia terrestre. O momento da fala também é simbólico: o Brasil enfrenta pressões crescentes para reforçar sua presença na Amazônia diante do avanço do crime organizado transnacional e de interesses estrangeiros sobre a biodiversidade e as riquezas minerais da região. Da mesma forma, cresce a necessidade de vigilância no Atlântico Sul, onde estão localizadas importantes rotas comerciais e potenciais reservas de petróleo. Múcio, ao apontar o contraste entre o Brasil e outros países que vêm expandindo seus arsenais e capacidades tecnológicas, constrói um argumento que busca sensibilizar não só empresários, mas também setores da sociedade que tradicionalmente associam gastos militares a desperdícios ou riscos autoritários. Como homem de Estado e com sua habilidade reconhecida de dialogar com diferentes espectros políticos, o ministro procura agora viabilizar um consenso que permita ao governo Lula retomar os investimentos sem que isso seja visto como uma ameaça aos compromissos sociais assumidos pelo governo. Ao usar a comparação com o Irã, um país frequentemente retratado como isolado no cenário internacional, ele buscou reforçar a urgência de colocar a Defesa na lista de prioridades nacionais. Em São Paulo, Múcio lançou as bases de uma ofensiva mais ampla que pretende mobilizar o apoio político e econômico necessário para reverter anos de subfinanciamento, garantindo que as Forças Armadas brasileiras estejam à altura dos desafios estratégicos que o país enfrenta neste novo cenário global e regional.
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